UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Francisca da Silva de Oliveira, ou simplesmente Chica da Silva (Serro, ca. 1732 - 15 de
fevereiro de 1796 ), foi uma escrava, posteriormente alforriada, que viveu no Arraial do Tijuco, atual Diamantina, Minas Gerais, durante a segunda metade do século XVIII.

"Não é consenso entre pesquisadores como seria a aparência física de Chica e se seria este o atributo que seduzira o contratador. O historiador Joaquim Felício dos Santos, que chegou a recolher depoimentos de pessoas que conviveram com Chica, não poupa palavras para descaracteriza-la: "(...) não possuia graça, não possuia beleza, não possuia espírito, não tivera educação, enfim não possuia atrativo algum que pudesse justificar uma forte paixão", diz. Já Nazaré de Menezes diz o contrário: "poderia ser grosseira, mas nunca odienta e asquerosa (...) não fosse não teria inspirado paixão tão ardente e duradoura"
Manteve durante mais de quinze anos uma união consensual estável com o rico contratador dos diamantes João Fernandes de Oliveira tendo com ele treze filhos. O fato de uma escrava alforriada ter atingido posição de destaque na sociedade local durante o apogeu da exploração de diamantes deu origem a diversos mitos.
Origens e escravidão

Chica da Silva era filha de Antônio Caetano de Sá, homem branco, provavelmente nascido e batizado na Candelária, no Rio de Janeiro. Pouco se sabe sobre o pai de Chica a não ser que, em 1726, ocupava o posto de capitão das ordenanças de Bocaina, Três Cruzes e Itatiaia, distritos de Vila Rica. Isto indica que Antônio ocupava uma posição de distinção e
honra na sociedade. Chica herdou a condição de escrava da sua mãe, Maria da Costa. Africana da Costa da Mina, onde hoje se situam o Benim e a Nigéria, Maria foi trazida para o Arraial do Milho Verde ainda criança, por volta de 1720. Era escrava de Domingos da Costa, homem negro e forro. Chica foi registrada no Arraial do Milho Verde, no município de Serro Frio, atual Serro.

Quando ainda era escrava, Chica da Silva era tratada nos documentos como "Francisca mulata" ou "Francisca parda", vez que os escravos não tinham sobrenome e normalmente eram diferenciados de acordo com seu grupo étnico ou cor da pele. Contudo, em 1754, Chica já era identificada num documento como "Francisca da Silva, parda forra". O sobrenome Silva, bastante comum no mundo português, era adotado normalmente por pessoas sem procedência ou origem definida, fato que indica que Chica conquistou sua liberdade por conta própria, sem apadrinhamentos ou conexões. Com o nascimento da primeira filha, foi identificada no registro de batismo como "Francisca da Silva de Oliveira", denotando um pacto informal com seu companheiro, o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira.

Na juventude, Chica foi escrava do sargento-mor português Manuel Pires Sardinha , proprietário de lavras no Arraial do Tijuco. Nesta época, teve com ele um filho, Simão Pires Sardinha, nascido em 1751, que teve como padrinho de batismo o então Capitão dos Dragões do Distrito Diamantino, em homenagem ao qual recebeu o nome. O registro de batismo deste filho não declara a sua paternidade, mas Manuel Pires Sardinha deu-lhe alforria e nomeou-o como um de seus herdeiros no seu testamento, daí o uso do mesmo sobrenome. Simão foi educado em Portugal e veio a ocupar cargos importantes no governo da Corte.
Alforria e família

Em 1754, João Fernandes de Oliveira chegou ao Arraial do Tijuco para assumir a função de contratador dos diamantes , que vinha sendo exercida por seu pai homônimo desde 1740. Em 1754, Chica da Silva foi adquirida ou alforriada pelo novo explorador de diamantes, quando então passou a viver com o contratador, ainda que nunca tivessem se casado oficialmente.

Com João Fernandes ela teve treze filhos durante os quinze anos em que com ele conviveu: Francisca de Paula (1755); João Fernandes (1756); Rita (1757); Joaquim (1759); Antonio
Caetano (1761); Ana (1762); Helena (1763); Luiza (1764); Antônia (1765); Maria (1766); Quitéria Rita (1767); Mariana (1769); José Agostinho Fernandes (1770). Todos foram registados no batismo como sendo filhos de João Fernandes, ato incomum na época quando os filhos bastardos de homens brancos e escravas eram registrados sem o nome do pai.


Entre 1755 e 1770 João Fernandes e Chica da Silva habitaram a edificação existente no que hoje é a praça Lobo de Mesquita, no número 266, em Diamantina .

A união consensual estável de João Fernandes e Chica da Silva não foi um caso isolado na sociedade colonial brasileira de envolvimento de homens brancos com escravas. Distinguiu-se por ter sido pública, intensa e duradoura, além de envolver um dos homens mais ricos da região durante o apogeu econômico .

Os companheiros separaram-se em 1770, quando João Fernandes de Oliveira precisou retornar a Portugal para receber os bens deixados em testamento pelo pai. Ao partir, João

Fernandes levou consigo os seus quatro filhos homens. Em Portugal, os filhos homens de Chica da Silva receberam educação superior, ocuparam postos importantes na administração do Reino e até receberam títulos de nobreza .

Chica da Silva ficou no Arraial do Tijuco com as filhas e a posse das propriedades deixadas por João Fernandes, o que lhe garantiu uma vida confortável . Suas filhas receberam a melhor educação que se dava às moças da aristocracia local naquela época , sendo enviadas para o Recolhimento de Macaúbas , em Santa Luzia, onde aprenderam a fazer tricô, foram letradas, receberam instrução musical. Dali, só saíram em idade de se casar, embora algumas tenham seguido a vida religiosa.

Apesar de ser uma concubina, Chica da Silva alcançou prestígio na sociedade local e usufruiu das regalias privativas das senhoras brancas. Na época, todas as pessoas se associavam a irmandades religiosas de acordo com a sua posição social. Chica da Silva pertencia às Irmandades de São Francisco e do Carmo, que eram exclusivas de brancos, mas também às irmandades das Mercês - composta por mulatos - e do Rosário - reservada aos negros.
Portanto, Chica da Silva tinha renda para realizar doações a quatro irmandades diferentes, era aceita como parte da elite local composta quase que exclusivamente por brancos , mas também mantinha laços sociais com mulatos e negros por meio de suas irmandades. Apesar disto, como era costume da época, logo que foi alforriada passou a ser dona de vários escravos que cuidavam das atividades domésticas de sua casa.

Faleceu em 1796. Como era costume na época, Chica da Silva tinha o direito de ser sepultada dentro da igreja de qualquer uma das quatro irmandades a que pertencia. Foi sepultada dentro da igreja de São Francisco de Assis pertencente a mais importante irmandade local, um privilégio quase que exclusivo dos brancos ricos, o que demonstra que mantinha a condição social mais alta mesmo vários anos após a partida de João Fernandes para Portugal.


DescendênciaAo longo de sua vida, Chica da Silva teve quatorze filhos. O primogênito, Simão Pires Sardinha, era filho de seu antigo proprietário, Manuel Pires Sardinha e os outros treze do seu companheiro, João Fernandes de Oliveira. Chica e João Fernandes procuraram dar a melhor educação possível para seus filhos, de forma a garantir a sua inserção na sociedade. Os filhos homens se mudaram para Portugal junto com o pai em 1770 e todos lograram sucesso profissional: João Fernandes de Oliveira Grijó, o primogênito masculino, tornou-se o principal herdeiro do pai, porém a cor escura que herdara da mãe representou um problema para encontrar uma esposa, tanto que casou aos 28 anos com uma portuguesa humilde, filha de lavradores; José Agostinho recebeu a patente de capitão de milícias no Tejuco; Simão Pires Sardinha, que teve uma participação não esclarecida na Inconfidência Mineira, tornou-se nobre e amigo do príncipe regente D. João VI.

As filhas ficaram em Minas Gerais sob os cuidados de Chica, tendo sido mandadas para o Recolhimento de Macaúbas, onde as filhas da elite mineira eram recolhidas. Chica

preocupou-se em garantir bons casamentos para as suas filhas, pois na época o matrimônio ou o recolhimento religioso configuravam as duas únicas alternativas para as mulheres ditas "honradas". Apesar de serem mulatas, muitas das filhas de Chica casaram com homens portugueses, denotando que a herança que receberam do pai lhes garantiu um dote razoável, capaz de garantir casamento com consorte de melhor condição.

Segundo a historiadora Júnia Furtado, o que se depreende da história dos descendentes de Chica é a dualidade da inserção social dos descendentes de libertos na sociedade mineradora. Se, por um lado, a fortuna que herdaram e a importância social do pai e dos ascendentes paternos foram elementos facilitadores, a origem negra e escrava da mãe constituíam empecilhos. Enquanto algumas das filhas de Chica casaram na igreja com homens portugueses, outras tiveram filhos naturais, outras nunca legitimaram suas uniões ou só encontraram refúgio no recolhimento religioso. Já os filhos, embora todos tenham ascendido socialmente, tiveram maiores dificuldades em se notabilizar. Eles frequentemente tiveram que esconder ou camuflar a origem negra e escrava do lado materno nos processos de investigação familiar, pois naquela época o mulatismo era impedimento para ocupar cargos de prestígio. E, por fim, a trajetória da família de Chica revela uma tentativa de "branqueamento" pois, na sociedade preconceituosa do Brasil colonial, era uma forma de aumentar as chances de ascensão social, vez que havia fortes mecanismos de exclusão com base na cor, raça e na condição de nascimento do indivíduo.

O mito

Chica morreu em 1796 e foi enterrada na igreja de S. Francisco de Assis, privilégio reservado apenas aos brancos ricos...

Após a sua morte, Chica da Silva tornou-se desconhecida do grande público. Contudo, na segunda metade do século XIX,Joaquim Felício dos Santos, nas Memórias do Distrito Diamantino, trouxe à tona a existência da ex-escrava. Posteriormente, a história de Chica foi revisitada por diversos autores em romances, peças de teatro, poemas e também no cinema e na televisão. A historiadora Júnia Ferreira Furtado, que escreveu a biografia de Chica em 2009, tece diversas críticas a esses trabalhos. Segundo ela, praticamente tudo o que se fez sobre Chica da Silva foi baseado tão-somente nas informações fornecidas por Joaquim Felício dos Santos, sem o devido aprofundamento histórico. Com isso, a história de Chica foi contada sem a devida preocupação com a construção da realidade, distanciando-se da real trajetória de vida dessa figura histórica e caindo na ficção.

Em consequência, o que o grande público conhece de Chica da Silva é um mito no qual realidade e fantasia se misturam, a depender das intenções do autor a massificação do mito,

asseverando que "os limites do erótico e do mau gosto foram ultrapassados, sem nenhum compromisso com a realidade do século XVIII, que tem sido revelada na sua multiplicidade e complexidade pela pesquisa histórica"

Um afro abraço.
fonte:a enciclopédia livre/www.cidadeshistoricas.art.br

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Entre o Sagrado e o Profano:Padre:Benedito Batista de Jesus Laurindo

O imaginário nos conflitos sociais:
A prática da religiosidade popular vem se intensificando na contemporaneidade, seja para glorificá-la, ressaltando o seu caráter libertador, seja para exorcizá-la como pouco ortodoxa, do ponto de vista teológico, ou alienada sob outros prismas. Algumas correntes apresentam este conceito de forma reificada, isto é, tratam as formas populares de religiosidade como se fossem independentes das relações sociais nas quais se inserem. É o caso de artigos e de obras de alguns folcloristas que, preocupados com a preservação descritiva de nossas tradições culturais, revelam-se, na maior parte das vezes, desenraizados historicamente. Entendemos que algumas categorias básicas como o sagrado e o profano, o oficial e o popular, só poderão ser compreendidas dentro de um contexto de relações da religião com a sociedade.

Estas reflexões sobre as relações dos homens com o divino desdobraram-se necessariamente sobre questões ligadas à conceituação e à interpretação da cultura popular, na medida em que a experiência do sagrado é apropriada de maneiras diversas pelos grupos ou por indivíduos, caracterizando uma pluralidade de usos e de entendimentos.

O CATOLICISMO LETRADO E O SONHO AUNAMINISTA

A partir da segunda metade do século XIX, um novo modelo eclesial católico começou a ser implantado no Brasil: o ultramontanismo. De raízes conservadoras, essa autocompreensão nasceu sob o impacto das revoluções liberais européias que agitaram o próprio trono pontifício. Buscando uma consolidação doutrinária teológica, estruturou-se em torno de alguns anátemas: a rejeição à ciência, à filosofia e às artes modernas, a condenação do capitalismo e da ordem burguesa, a aversão aos princípios liberais e democráticos, e sobretudo ao fantasma destruidor do socialismo.

Engendrado com a mesma concepção medieval unitária do Universo, esse catolicismo estava marcado pelo centralismo institucional em Roma, por um fechamento sobre si mesmo e por uma recusa de contato com o mundo moderno. Conscientes de que essa ordenação doutrinária constituía-se na força mantenedora da unidade da Igreja, os pontífices romanos, desde Gregório XVI até Pio XII, não mediram esforços para a sua consolidação. Com uma rigidez hierárquica, reproduzida também pelas mais distantes células paroquiais, o ordenamento ultramontano aspirava a uma univocidade entre a Europa, Ásia, África e América.
Ancorado, portanto, na ortodoxia tridentina, e naturalmente no pensamento aristotélico-tomista, o ultramontanismo construiu um arcabouço religioso destinado a se derramar ainda por todos os poros da sociedade, e nos seus diferentes microcosmos desencadeou estratégias reformadoras. A expressão doutrinária mais explícita dessa concepção religiosa foi a encíclica Quanta Cura e o Syllabus que a acompanhava, em que se retomava a luta pela preponderância da autoridade espiritual da Igreja sobre a sociedade civil. De acordo com suas teses, a sociedade inteira deveria estar impregnada de catolicismo, a educação seria submetida à Igreja e os clérigos estariam fora da jurisdição do Estado.


Padre:Benedito Batista de Jesus Laurindo, nasceu em 05.08.1952, em Silvânia, perto de Matão, Araraquara, no estado de São Paulo.
Sua mãe, Dona Rosa Maria de Jesus Melga, hoje, com 73 anos de idade. Pe.Batista é filho do primeiro casamento!
Ficando viúva, casou-se novamente, vieram sete irmãos: Zilda, Maria; Oscar, Eugenio, Sonia, Elaine e Marcelo. ,
Hoje já são casados e tem filhos.
Sabemos do grande esforço do Pe. Batista para ajudar a cada um, cada uma em suas caminhadas.
Ainda, quando muito pequeno, de família, muito pobre, engraxava sapatos para ganhar uns trocadinhos e ajudar em casa.

• Coragem e dedicação não lhe faltaram.

Como seminarista
• Estudou e desde seminarista começou a trabalhar com crianças e jovens
• Estimulou a formação de Encontros de Jovens na Igreja da Penha;

Como diácono

• Motivou e trabalhou com os meninos na Associação dos Engraxates na região central da cidade;
• Depois foi mentor, implementou e coordenou o então Centro Comunitário do Menor- que atendia meninos e meninas, excluídos sociais, que viviam na Praça da Sé. Hoje CCCA – Centro Comunitário da Criança e do Adolescente, que funciona com quatro unidades na Região central da capital paulista.

Como padre
. Estimulou muito a Pastoral Catequética da Boa Morte e da Catedral; Criou a Casa da Menina mãe – para jovens em situação de rua que estavam grávidas.
. Foi pioneiro com o grupo de nascimento da Pastoral Afro;
com a fundação dos Agentes de Pastoral Negros
com a constituição do Instituto do Negro,
teve Ações de inculturação e foi o precursor de ações afirmativas

Outros dons

• Pe. Batista tinha uma voz que enchia a catedral e um dom especial para a liturgia – sempre estimulou as comunidades por onde passou, para melhor celebrar.
• Na Região Sé, com sede na Igreja N.Sra. do Carmo, na Rangel Pestana, fundou e estimulou por vários anos o Curso de Liturgia.
• Implementou também junto com outras religiosas as celebrações afro, realizadas nos primeiros encontros da Pastoral Afro e que continuam até hoje, realizando efetivamente a inculturação.


Sempre esteve ao lado das pessoas mais empobrecidas ou excluídas socialmente...
• Com grande afeição e carinho pelas pessoas que mais sofriam e junto com as Irmãs da Congregação de Jesus Crucificado montou um grupo de pastoral inovadora, com mulheres que trabalhavam como domésticas.
O trabalho foi tão estimulante que muitas voltaram a estudar e deram outros rumos às suas vidas, inclusive compondo o Sindicato das Empregadas Domésticas, fundado posteriormente.
• Tinha profundo respeito e consideração pelos homossexuais e com eles celebrava sempre.
• Foi muitas vezes parado pela polícia, era revistado, insultado, humilhado e o deixava de ser, quando se identificava como padre.
• Fundou o Instituto do Negro, em 20.11.1987, cujo principal objetivo era oferecer bolsas de estudos (parciais e quando possível integrais) a universitários /as negros /as de baixa renda.


Se liga:
Vitima de racismo, Padre Batista passou por impiedosas perseguições policiais, de família e empresários que não o aceitavam na paróquia e por seu idealismo de contemplar na região leste da capital paulista pessoas menos favorecidas.

Mesmo sofrendo tantas pressões, Pe. Batista seguiu enfrentando muitos que discordavam dos seus métodos inovadores de olhar para os excluídos, enfatizando a Teoria da Libertação e conseguiu unir o movimento negro e as comunidades católicas.

Em 25 de outubro de 1980, recebe o diaconato, se ordenando seminarista já em São Miguel Paulista. Em 1981 Dom Evaristo Arns o convida para ser diácono na Igreja da Sé, recebendo inicialmente a função de ser o primeiro negro cantor oficial das missas pontificiais, um fato inédito na história da Igreja, transformando a liturgia que tinha um caráter de serenidade, em algo animado, com hinos agitados, palmas e ritmos mais fortes.

Nesse processo, Batista realiza um trabalho assistencialista com as "crianças de rua" que
ficam na Praça da Sé, dando-lhes café e ensinando o ofício de engraxates e o trabalho se expandiu tornando-se Centro Comunitário da Criança e do Adolescente.

Em 1984, padre Batista foi ordenado sacerdote com uma das maiores celebrações já existentes na Catedral da Sé, estavam presentes todos os familiares, lideranças do movimento negro, Padres, Religiosos, os menores de rua, representantes de favelas, autoridades políticas, tudo registrado e televisionado pela TV Cultura. Nesse mesmo ano, foi nomeado vigário paroquial da Catedral da Sé e em junho foi nomeado reitor da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, atuando também como Capelão.
O Padre Batista já identificava que estudos e pesquisas acadêmicas viriam confirmar – a imensa desigualdade no acesso às oportunidades educacionais na sociedade brasileira existente entre as populações das várias etnias, com destaque para a população negra.
Em 1991, após a sua morte, o Instituto passou a chamar Instituto do Negro Padre Batista.

Deus te salve, casa santa, / Onde Deus fez a morada, 
onde mora o caliz bento / e a hóstia consagrada. 
Deus te salve, ó lindo arco, / Deus te salve! Felizmente 
vai passar senhor Divino / com todo acompanhamento

Um afro abraço.

fonte: Folha Cidade

sábado, 23 de agosto de 2014

Shaka Zulu:Tshaka; Tchaka ; Chaka ou KwaZulu


Os zulus se estabeleceram na área conhecida atualmente como Kwa Zulu-Natal e participaram de batalhas épicas com líderes que entraram para a história, como o grande estrategista Shaka. Povo zulus ou zulos são povos do sul da África, vivendo em territórios correspondentes à África do Sul, Lesoto, Suazilândia,Zimbábue e Moçambique. Embora hoje tenham expansão e poder político restritos, os zulus foram, no passado, uma nação guerreira que resistiu à invasão imperialista britânica e bôere no século XIX.

A população de zulus na África do Sul foi estimada em 8.778.000 1995, correspondendo a 22.4% da população total do país ("The Economist"). Nos restantes países, o número de zulus é estimado em cerca de 400 mil.

A província sul-africana do KwaZulu-Natal é considerada a sua pátria original.

A língua dos zulus é denominada isiZulu, e, em sua língua, os zulus são chamadosamaZulu.


História
Os zulus eram originalmente um grande clã onde hoje é o norte do kwaZulu-Natal. Foi fundada por Zulu kaNtombhela. Em 1816, os zulus formaram um poderoso estado sob liderança de Shaka.

Em 11 de dezembro de 1878, os britânicos entregaram um ultimato aos onze chefes representados por Setshwayo. Os termos incluíam a rendição de seu exército e aceitar a autoridade britânica. Cetshwayo recusou e a guerra começou em 1879. Os zulus ganharam em 22 de janeiro a batalha de Isandlwana. A virada dos britânicos veio com a batalha em Rorke's Drift e sua vitória veio com a batalha de Ulundy em 4 de Julho.

Shaka Zulu foi um chefe tribal zulu e estrategista militar, que transformou os zulus de uma etnia com pouca expressão territorial em um império que ensombrou os desígnios coloniais britânicos.

Filho orfão e ilegítimo de Senzanganakhona, chefe do clã zulu dos nguni, Shaka e a mãe foram banidos da sua umuzi (aldeia), e forçados a viver no exílio entre os mtetwa, na altura do reinado deDingiswayo.

Ao atingir a puberdade, Shaka seguiu os costumes dos Mtetwa, e juntamente com os outros

rapazes da sua idade (intanga), integrou o regimento isiCwe do exército de Dingiswayo. Shaka integrou-se bem na vida militar, e à medida que a sua fama pessoal e autoridade aumentava, introduziu alterações às tácticas anteriormente utilizadas.

Uma das mudanças mais importantes foi o abandono das tácticas de combate "atacar e retirar", pelo combate corpo a corpo, perseguição do inimigo, e da aniquilação total do inimigo. Estas tácticas foram sendo adoptadas por outros clã dos Nguni. No início da década de 1810, contra os Buthelezi em 1810, e posteriormente contra os Nongoma em 1812, Shaka havia aperfeiçoado a implementação dos seus homens no campo de batalha numa formação de ataque em forma de lua, com as pontas denominadasizimpondo (cornos), e o centro de isifuba (peito), com a qual obteve grandes êxitos, e seria a formação de combate padrão dos zulus nos próximos noventa anos.

Em 1816 foi enviado por Dingiswayo, chefe dos mtetwa, e regressa do exílio, e rapidamente se afirma rei dos zulus, eliminando todos que se lhe opunham. Um dos seus primeiros actos é constituir quatro regimentos, que são a origem do impi, nome pelo qual os exércitos zulus ficariam conhecidos. Os impis estavam armados com uma pequena lança, a assegai, um escudo de couro de boi, uma espécie de porrete que podia ser arremessado no inimigo com grande precisão e ainda o "cuspe de veneno", substância tóxica encontrada numa erva que era mastigada pelos guerreiros de Shaka, que a cuspiam no rosto dos inimigos durante os combates, causando grande irritação nos olhos. Apoiado neste impi, parte para nesse mesmo ano para atacar novamente os Buthelezi.



Ao longo dos últimos 400 anos, os líderes do rei Shaka da tribo Zulu de Nelson Mandela viajavam para prestar homenagem à rainha, na esperança de serem abençoados por ela com dias de chuva (The Water Wheel 2006).

Em 1818 a sua atenção vira-se para os ndwandwe, que vence na batalha de Gqokli, de forma decisiva, apesar de a vantagem à partida não estar do seu lado. A mesma sorte tiveram outros clãs e tribos, contra quem os Zulus apontaram a sua máquina de guerra, numa

expansão territorial que iria aumentar o território sob o seu controlo cerca de 12 vezes.

1824 seria um ano marcante na histórios dos Zulus: Shaka autorizou o estabelecimento de europeus (H.F. Fynn e Lt. Farewell, fundadores da Natal Trading Company) no seu território. Estes fundaram Port Natal, a actual cidade de Durban.

Shaka foi assassinado em 1828 pelos seus meio-irmãos Dingane e Mhalangana, sucedendo-lhe Dingane.

Um afro abraço.
fonte: enciclopédia livre.

domingo, 17 de agosto de 2014

A História Política do Negro, Racismo a brasileira

Identidade coletiva negra e escolha eleitoral no Brasil
Pra vocês entenderem...Os negros escravos foram comparados a instrumentos de trabalho e animais: era-lhes negado o status de humanos. Com a abolição, o negro foi relegado ao status de cidadão de segunda classe, excluído dos direitos sociais e de cidadania e desconsiderado por uma concepção de história branca e européia que enfatizava o movimento operário na perspectiva do branco imigrante europeu. Mesmo em condições adversas os negros atuaram politicamente. Para compreender sua política é preciso considerar a política para além das instituições estatais. O artigo analisa as práticas políticas dos negros brasileiros através das suas organizações e a inserção na política institucional enquanto estratégias para a conquista e consolidação da cidadania. Ao mesmo tempo, explora as relações entre racismo e política, em outros termos, o racismo enquanto política de exclusão.

Os males de origem
No século XVI, a partir da terceira década, o Rei de Portugal convence-se de que é preciso efetivar a ocupação do território brasileiro para garantir seus direitos sobre a colônia, ameaçada pelos franceses, cada vez mais presentes nesses trópicos. Porém, realizar esse objetivo não é nada fácil: quem se interessaria por tal empreitada? “A não ser os traficantes de madeira – e estes mesmos já começavam a abandonar uma empresa cujos proveitos iam em declínio – ninguém se interessava seriamente, até então, pelas novas terras; menos ainda para habitá-las”, escreveu Prado Jr. (1976: 31)

Para atingir seus objetivos o soberano português não teve outra opção senão a de tornar o mais atrativo possível aos olhos de ambiciosos aventureiros a árdua tarefa de colonizarem a Terra Brasilis, oferecendo-lhes nada menos do que a partilha da soberania: os que aceitaram os desígnios reais, adquiriam soberania sobre as Capitanias Hereditárias (extensos territórios em que foi dividido o Brasil, nossos primeiros latifúndios). Mesmo assim, poucos se candidataram. A qualidade dos pretendentes pode ser inferida pelo simples fato de nenhum deles pertencerem à alta nobreza ou aos grandes mercadores do Reino. Eram, como observou Prado Jr., “indivíduos de pequena expressão social e econômica”.


E assim se iniciava o efetivo projeto de colonizar o Brasil. Sem braços dispostos a enfrentar os desafios de povoar produtivamente a terra e desenvolver a colônia, recorreu-se à escravidão: primeiro, do habitante nativo; depois, dos corpos africanos arrancados violentamente à mãe negra

A cidadania negada
“A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, e recompensará em proporção dos merecimentos de cada um.” (Art. 179, inciso XIII daConstituição Política do Império do Brasil, de 25 de março de 1824)
“Todos são iguaes perante a lei.” (Art. 72 § 2º da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891)
“Todos são iguaes perante a lei. Não haverá privilégios, nem distincções, por motivos de nascimentos, sexo, raça, profissões próprias ou dos paes, classe social, riqueza, crenças religiosas ou ideas políticas.” (Art. 113, § 6º da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de 1934)

É ilustrativo que a moeda francesa inscreva em sua face o lema Liberté, Egalité, Fraternité. Essas belas palavras, que expressaram os sonhos de várias gerações e o combustível que alimentou movimentos liberais, humanitários e revolucionários, foram resumidas historicamente em uma: propriedade. Assim, metaforicamente, quanto mais francos franceses um indivíduo possuir (ou outra moeda qualquer – de preferência, dólares), mais gozará da liberdade, mais será cidadão (com direitos, muitas vezes, acima da lei). Quanto à fraternidade, a relegará às obras de caridade e filantrópicas, de caráter religioso ou não.

Não só o escravo foi excluído, mas também os homens livres pobres, mesmo brancos. Os direitos políticos foram encarados como pertinentes apenas aos que tinham posses. A Constituição de 1824 estabelecia um sistema de eleições indiretas, em dois graus, para a qualificação dos eleitores, de acordo com os bens possuídos, classificados segundo a renda anual.
Por outro lado, tratou-se de dar um verniz liberal: D. Pedro deu-se ao luxo de aceitar certos direitos como a liberdade de imprensa. Em suma, a Constituinte era uma paródia da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1789: manteve o poder absoluto da monarquia imperial e as vantagens políticas resultantes da independência foram reservadas à elite agrária. O critério de propriedade manterá o status quo: a elite colonial continuará a dominar o Estado. Este, manteve-se acima da sociedade, dominador e cabide de empregos de uma massa serviçal das classes dirigentes.

Negro: subcidadão
O 13 de maio de 1888 marcou um momento crucial de um processo iniciado ainda nos tempos do Brasil colonial: a luta do cativo pela liberdade. O escravo emancipado perceberá que esse processo ainda não findara e que, como assinala Bosi (1992: 271), avançava em duas direções:

“Para fora: o homem negro é expulso de um Brasil moderno, cosmético, europeizado. Para dentro: o mesmo homem negro é tangido para os porões do capitalismo nacional, sórdido, brutesco. O senhor liberta-se do escravo e traz ao seu domínio o assalariado, migrante ou não. Não se decretava oficialmente o exílio do ex-cativo, mas este passaria a vivê-lo como um estigma na cor da sua pele.”

Os caminhos dos negros após a abolição foram diferentes e de acordo com fatores como: particularidades regionais, conjuntura econômica, proporção em relação à população geral, concorrência no mercado de trabalho. Eles se espalharam nas zonas rurais – economias de subsistência, monoculturas – fundindo-se com as amplas camadas da população. Substituído nas fazendas de café pelo imigrante – branco europeu ou japonês – também foi preterido nas cidades enquanto mão-de-obra para a nascente indústria brasileira. Censo da época indica que a maioria absoluta (mais de 80%) dos operários eram imigrantes, sobretudo italianos. A experiência acumulada pelo ex-escravo durante anos não lhe era suficiente para enfrentar a concorrência. Escravo no passado, ele deveria se especializar e aprender a vender a sua força de trabalho.

Por outro lado, é preciso reconhecer que ele carregava o estigma de um passado marcado pelo trabalho escravo, gerador de conflitos entre as exigências do tipo de trabalho assalariado e a forma como os escravos o encaravam. Com analisa Florestan Fernandes, o imigrante embora se rebelasse contra as condições de vida e de trabalho, deformadas pelas sobrevivências do padrão de trabalho servil, aceitavam as condições impostas pelo contrato de trabalho capitalista e via nesse a possibilidade de constituir uma poupança e ascender socialmente.

A ação política do negro no inicio do seculo passado...
O povo negro teve dificuldade de se organizar na nova situação: a I República fomentou um clima desfavorável à sua atividade política. Sem espaço na política institucional e nos

sindicatos, ele desenvolveu formas de atuação amparadas numa imprensa própria surgida nas primeiras décadas do século XX: O Menelik (1915), A Rua (1916), O Alfinete (1918), A Liberdade (1919), A Sentinela (1920), O Getulino e oClarim d’ Alvorada (fundado, também em 1924, por José Correia Leite e Jaime de Aguiar). Nessa época, se falava em organização e conscientização dos homens de cor: só mais tarde que o termo negro passou a ser aceito.

Identificação pela cor e negritude
Definimos a identificação pela raça ou pela cor no Brasil como a auto atribuição de uma categoria racial ou de cor com a consciência da prevalência de uma hierarquia que ordena socialmente as cores. No topo está a cor branca, no meio, a parda e, na base, a negra.Conforme sugerido por Rogers Brubaker e Frederick Cooper (2000), utilizamos o termo identificação em lugar de identidade, porque ele parece capaz de levar em conta o fato de que as identidades não se revelam constantes ao longo do tempo. Apesar de os brasileiros não necessariamente concordarem com a hierarquia das cores, os cidadãos são conscientes de sua existência. Diversas tonalidades mestiças se distribuem ao longo desse espectro. Estão associadas às cores conotações transmitidas por meio do humor e de expressões populares que valorizam o branco como algo benigno e o negro como algo daninho. A identificação racial dos indivíduos pode variar de acordo com a circunstância social na qual se encontram. Além disso, os cidadãos, por vezes manipulam sua identificação para alterar sua posição no espectro das cores.
Raça é normalmente vista como algo biológico, enquanto a cor é composta pela aparência física e pela posição social. Por exemplo, a terminologia da cor inclui categorias como preto, pardo, moreno, moreno claro e branco. No entanto, o termo politicamente forte, negro, é uma categoria racial com a qual afrobrasileiros de todas as cores podem se identificar. Ela foi incialmente promovida por ativistas do
movimento negro, mas hoje é utilizada mesmo pelos grandes órgãos de imprensa ao veicular informações e dados relacionados aos afrobrasileiros e, quando utilizada, refere-se tanto a pretos como pardos.

Análise do voto em favor de um candidato negro


Aplicamos uma análise de regressão na qual o voto em favor de um candidato negro representa a variável dependente e identificação pela cor, cidade, sexo, idade, status socioeconômico, bairro e identidades coletivas forte e fraca atuam como variávéis independentes. O modelo de regressão mostra que a identificação pela cor e a identidade coletiva fraca são estatisticamente significantes com um intervalo de segurança de 95%, enquanto bairro, idade e status socioeconômico têm sua significância estatística situada num intervalo de segurança de 99% . Também uma regressão logística foi aplicada para extrair estimativas de probabilidade para o voto em favor de um candidato negro em função das variáveis independentes . Entrevistados foram questionados sobre se haviam votado em um candidato negro, podendo responder sim ou não. A identificação dos entrevistados pela cor se baseia na cor que escolheram na questão aberta. Não incluímos aqueles que se autoclassificaram como indígenas, afrodescendentes e brasileiros. Categorias de
cor e raça foram agrupadas da seguinte maneira: branco, mulato, moreno claro, pardo (abrangendo pardo, moreno e marrom), moreno escuro (moreno escuro e moreno jambo), a categoria racial negro (negro e “negão”) e a categoria de cor preto. Os níveis educacionais correspondem aos anos de escolarização formal, agrupados assim: 1-3 anos, 4-7, 8-10, 11-14 e mais de 15 anos. A renda familiar mensal engloba: sem renda, renda menor do que 2 salários mínimos, 2-5, 5-10 e 10-20 salários mínimos. O status socioeconômico é medido pela combinação das variáveis educação e renda. As categorias de idade são: 16-25 anos, 26-40, 41-54 e mais de 55 anos.

Idade e voto em candidatos negros

Tanto a análise de regressão como a regressão logística mostram que identificação pela cor, status socioeconômico, idade, identidade coletiva racial fraca e bairro são todos fatores estatisticamente significantes. A idade é especialmente significante, situando-se em um intervalo de segurança de 99%. Conforme aumenta a idade, aumenta também a probabilidade de que um entrevistado vote em favor de
um candidato negro. Mantendo constantes a cor, o bairro, o sexo, o status socioeconômico e as identidades coletivas raciais fraca e forte, a estimativa de probabilidade de que um afrobrasileiro no grupo etário dos 16 aos 25 anos em Salvador e São Paulo vote em um candidato negro é de .30. A probabilidade aumenta para .45 na faixa etária dos 26 aos 40 e para .62 na faixa dos 51 aos 55 anos. Finalmente, para aqueles acima de 56 anos, chega a .76. Afrobrasileiros na faixa etária mais velha são duas vezes e meia mais propensos a votarem em favor de candidatos negros do que afrobrasileiros situados nas faixas mais jovens.


Votos “preto” e “negro”
A maior estimativa de probabilidade de voto em candidatos negros em ambas as cidades é encontrada entre pretos. Conforme destacado anteriormente, preto é a categoria de cor que denota a cor da pele em lugar da adoção de em uma categoria racial. Apesar disso, ela tem forte significado político, especialmente num país em que a negritude não é suficientemente valorizada nos meios de comunicação ou na vida cotidiana. Afrobrasileiros podem voluntariamente optar por uma categoria não-negra e, ao fazê-lo, geralmente elegem a categoria parda, apesar de um certo número de afrobrasileiros se identificarem como pretos ou negros. Em comparação com as escolhas daqueles que optam por identidades não-negras, preto ainda tende a expressar uma consciência racial mais aguçada da negritude. Por essa razão, são mais propensos a apoiarem candidatos negros do que afrobrasileiros que se identificam por meio de outras categorias de cor. A pesquisa etnográfica de John Burdick (1998) oferece evidências de que pretos enfrentaram pessoalmente situações de racismo com muito mais frequência do que afrobrasileiros que anteriormente se identificavam com uma cor mais clara, passando posteriormente a identificar-se como negros. Diferente de Burdick, não acredito que afrobrasileiros que adotem a categoria preto se vejam condenados a essa opção.

 Em seu reconhecimento do racismo, são conscientes de sua raça e, em lugar de acatar o mito da democracia racial, segundo o qual a discriminação se deve unicamente à classe
social, eles acreditam genuinamente que ela se deve à cor da pele e, em decorrência, elegem uma categoria de cor correspondente. Apesar de existirem diferenças entre pretos e negros, ambas as categorias representam identidades negras e deveriam ser devidamente compreendidas ao se avaliar a consciência racial. 

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte: Prado Jr (1976: 34)/o século XVII, territórios mais pobres, como São Paulo e a parte setentrional (Maranhão e Pará), o índio foi utilizado quase que exclusivamente. Os documentos da época referiam-se aos índios através do termo "negros". Essa palavra foi comumente utilizada para designar os indivíduos das raças dominadasBAILEY, S. R. e TELLES, E. E. “Multiracial vs. Collective Black Categories: Census
Classification Debates in Brazil”. Ethnicities , v.6, nº 1, 2006/BRUBAKER, R. e COOPER, F. “Beyond Identity”. Theory and Society, nº 8, 2000./BUTLER, K. Freedoms Given, Freedoms Won: Afro-Brazilians in Post-Abolition São Paulo and Salvador. News Brunswick: NJ: Rutgers University Press, 1998. /ASTRO, M. “Raça e Comportamento Político”. Dados , nº 36, 1993/DAWSON, M. Behind the Mule: Race and Class in African American Politics. /Princeton, NJ: Princeton University Press, 1994/ Black Visions: The Roots of Contemporary African-American Political/Ideologies. Chicago: University of Chicago Press, 2001.. 

Nossa gente nossa historia :Cultura Igbo


Os igbos (pronúncia ibos) são um dos maiores grupos étnicos africanos. Habitam do leste, sul e do sudeste da Nigéria, além de Camarões e da Guiné Equatorial.(em igbo: Asụsụ Igbo) é uma língua falada na Nigéria por cerca de 20-25 milhões de pessoas, os igbos,
especialmente na região sudeste, anteriormente conhecida como Biafra e em partes da região sul-sudeste da Nigéria. É escrita em alfabeto latino. O igbo é uma língua tonal, como o ioruba ou o chinês. Existem centenas de dialetos diferentes e línguas Igboides incluídas na língua igba, tais como os dialetos ikwerre enuane e o ekpeye. O igbo é uma das únicas línguas do mundo em que os sons podem produzidos de forma ingressiva, isto é, por meio da entrada de ar dentro do organismo.

Igbo-Ukwu é uma cidade situada no estado de Anambra. Trata-se de um sítio arqueológico importante, pois foi uma civilização que se desenvolveu na Nigéria oriental entre os séculos IX e X. É caracterizada pelo seu trabalho em cobre (proveniente das Montanhas de Aïr) e em bronze. Descoberta acidentalmente em 1938 por um morador que estava cavando um poço, ela não pode ser vinculado a qualquer outra cultura na região, mas revela a existência de um reino poderoso e refinado.

Foi um dos povos mais atingidos pelo comércio transatlântico de escravos seu dialeto o igbo se divide em vários dialetos, a maioria mutuamente inteligíveis entre si, são eles; bende, owerri, ngwa, umuahia, nnewi, onitsha, awka, abriba, arochukwu, nsukka, mbaise, abba, ohafia, agbor, wawa okigwe e ukwa/ndoki. O alto grau de semelhança entre estes dialetos faz com que formem uma continuidade dialectal.

Em 1967, apoiados pela multinacional francesa Elf-Aquitaine, declaram independência da região leste da Nigéria, formando a República de Biafra. Houve fome generalizada na região, guerra civil, o que acabou levando à derrota do ibos.

A cultura Igbo são os costumes, práticas e tradições dos Igbos do Sudeste da Nigéria. É composta por práticas arcaicas, bem como novos conceitos adicionados na cultura Igbo, quer pela evolução ou por influência externa. Estes costumes e tradições do povo Igbo incluem asartes visuais, música e formas de dança, bem como as suas vestimentas, culinária e idioma (dialetos). Considerando seus diversos subgrupos, a diversidade de sua cultura torna-se ainda maior.

O povo Igbo tem um estilo musical melódico e sinfônico, em que se incorporam vários instrumentos de percussão: oudu, que é um recipiente de argila; a ekwe, que é formado por escavação em madeira; e o ogene, um sino de ferro forjado. Outros instrumentos incluem o opi, um instrumento de sopro semelhante a flauta, o igba e a ichaka.

Música Igbo é a música do povo Igbo, que são indígenas da parte sudeste da Nigéria. Os Igbos tradicionalmente contam com instrumentos de percussão pesadamente tais como o Tambor e os Gong, que são os mais populares por causa de sua habilidade inata para proporcionar uma ordem diversificada de ritmo, som, e arremesso. A música Igbo geralmente é alegre, otimista, e espontânea que gera uma variedade de sons que permite aos igbos incorporarem a música em quase todas as facetas da sua vida quotidiana. Alguns estilos muito populares de música Igbo são: Fuji, Juju, Highlife, Waka, Reggae, Gospel e Hip-hop.

Outra forma musical popular entre os Igbo é o highlife, que é uma fusão de jazz e música tradicional muito popular naÁfrica Ocidental. O moderno highlife Igbo é visto na obra de Dr. Sir Warrior, Oliver De Coque, Bright Chimezie e Chief Osita Osadebe, que são os maiores músicos de Igbo highlife do século XX. Existem também outros notáveis artistas do extrato Igbo highlife, como Mike Ejeagha, Paulson Kalu, Ali Chukwuma e Ozoemena NWA Nsugbe.

gbo (ou ibo) pode referir-se a:
Igbo (povo), Um grupo étnico na África Ocidental
Língua igbo, A língua falada pelo povo Igbo do sudeste da Nigéria

Mitologia igbo
Música igbo
Arte igbo

Topônimos
Igbo Ukwu cidade da Nigéria, Anambra


Ijebu Igbo

Outros usos
Igbo Women's War
Delta Igbo
Nri Igbo, um subgrupo do povo Igbo
Igbo Judeu

Um afro abraço.

fonte: enciclopédia livre.Sources vary widely about the population. Mushanga, p. 166, says "over 20 million"; Nzewi (quoted in Agawu), p. 31, says "about 15 million"; Okafor, p. 86, says "about twenty-five million"; Okpala, p. 21, says "around 30 million"; and Smith, p. 508, says "approximately 20 million".

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Civilizações africanas da Antiguidade:O reino de Axum.

O reino de Axum se localizava na atual Etiópia. Segundo a lenda, esse reino teria sido
fundado por Menelik, filho do rei Salomão com a rainha de Sabá (o que nos remete à história contada no Livro dos Reis, no Antigo Testamento. Apesar de tal lenda não ter ainda nenhum fundamento comprovado, manteve-se por muitos séculos).
A cidade de Axum se localizava às margens do rio Atbara. Sua população era formada por povos locais (a Etiópia é considerada um dos mais antigos berços da humanidade) e por migrantes vindos da Arábia antes do século 6 a.C.

Em torno do século 3 a.C., os kushitas (ou meroítas) mantinham comércio com Axum. Em torno do século 2 a.C., o porto de Adulis, no mar Vermelho (que ficava a oito dias de viagem até Axum), era um dos maiores centros comerciais entre a África e a Arábia.
No século 1 d.C., o comércio transformou Axum num dos centros mais ricos da África. Entre os séculos 2 e 4 d.C., os axumitas controlavam grande parte da navegação, tanto mercante quanto de guerra, no mar Vermelho. Embaixadores axumitas viajavam pelos grandes reinos do Oriente Médio e da África, impondo os interesses comerciais de Axum.



Como os axumitas desenvolveram a escrita (chamada de gueze ou geês), escavações arqueológicas ainda hoje revelam muitos textos axumitas talhados em argila e pedra. E devido à grande atividade política de Axum, vários desses textos trazem uma versão em grego (a língua diplomática da época), o que facilita muito a compreensão da história desse povo.

Em 335 d.C., os axumitas invadiram, saquearam e incendiaram a capital kushita, Meroé, pondo fim ao reino de Kush, que representava um centro comercial concorrente. Acredita-se que a elite kushita tenha fugido em direção do oeste, chegando até o Chade, e difundindo assim a cultura kushita.


O império axumita se cristianizou a partir da influência egípcia, e se tornou um importante centro de difusão dessa nova religião no leste da África.

Com a expansão árabe muçulmana, a partir do século 7, o reino axumita cristão perdeu sua força, tanto econômica quanto cultural. Mesmo assim, séculos mais tarde, durante a expansão marítima e comercial de Portugal (século 15), muitos navegadores tinham como meta encontrar o reino lendário de Prestes João, um reino cristão africano que, provavelmente, seria o antigo reino de Axum.

E vale lembrar: muito tempo depois, enquanto toda a África era repartida e dominada pelas potências imperialistas europeias (no século 19), a Etiópia foi um dos poucos reinos que conseguiu manter sua independência. Ainda hoje, portanto, conhecer e valorizar a cultura etíope pode ser um caminho interessante para se compreender parte da história da humanidade.

Um afro abraço.


fonte:GIORDANI, Mário Curtis. História da África anterior aos descobrimentos. Rio de Janeiro: Vozes, 1985.
MUNANGA, Kabengele. Origens africanas do Brasil contemporâneo. São Paulo: Global, 2009.
SILVA, Alberto da Costa. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O negro valorização de sua identidade : Falta de consciência? Alienação? Deslumbramento? Compensação? ...

"A diversidade linguística e cultural dos contingentes de negros introduzidos no Brasil, somada a essas hostilidades recíprocas que eles traziam da África, e a política de evitar concentração de escravos oriundos de uma mesma etnia, nas mesmas propriedades, e até nos mesmos navios negreiros, impediu a formação dos núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano".


A partir da inviabilidade de suas práticas culturais e do ilogismo na adaptação dos valores e das tradições portuguesas, o africano foi adaptando a sua cultura aos moldes brasileiros.

A cobertura informativa sobre minorias étnicas
O "racismo simbólico", termo que surgiu nos anos 70 como forma de abordagem e diferenciação às hostilidades e ódios manifestos a integrantes de grupos étnicos e imigrantes. As formas mais atuais de xenofobia, racismo e preconceito contra grupos étnicos tem, por vezes, a sutileza da sensação de incômodo, insegurança desgosto e, em muitos casos, em medo e ressentimento (Dovidio e Gaertner, 1992).

O protagonismo em imagens destinado à população afro-descendente brasileira é constituído de pontos bastante demarcados: protagonistas em situações onde são afetados pela violência ou praticantes de atos ilícitos. Ainda protagonistas como atletas de destaque (futebol e atletismo com mais freqüência) ou como figurantes, como massa de anônimos para dar reforço, em geral, a personagens brancos de destaque ou afro-descendentes que compõem o raro e seleto grupo de negros que emergiram graças ao talento para as artes (representação e música).

Afro-brasileiro ou negro são os termos oficiais no Brasil que designam racialmente e de acordo com a cor as pessoas que se definem como pertencentes a esse grupo.

De acordo com uma pesquisa do IBGE realizada em 2008 nos estados do Amazonas, da Paraíba, de São Paulo, do Rio Grande do Sul, do Mato Grosso e no Distrito Federal, apenas 11,8% dos entrevistados reconheceram ter ascendência africana, enquanto que 43,5% disseram ter ancestralidade europeia, 21,4% indígena e 31,3% disseram não saber a sua própria ancestralidade. Quando indagados a dizer de forma espontânea a sua cor ou raça, 49% dos entrevistados se disseram brancos, 21,7% morenos, 13,6% pardos, 7,8% negros,

1,5% amarelos, 1,4% pretos, 0,4% indígenas e 4,6% deram outras respostas. Porém, quando a opção "afrodescendente" foi apresentada, 21,5% dos entrevistados se identificaram como tal.Quando a opção "negro" também foi apresentada, 27,8% dos entrevistados se identificaram com ela.

É UMA QUESTÃO DA COR DA PELE?...

Se algum pesquisador bater à sua porta perguntando qual é sua raça, você terá dúvidas para responder?
Por mais simples que pareça, essa questão está gerando muita polêmica.
Você sabia que não existem raças na espécie humana? Para chegar a esta afirmação, uma equipe de cinco cientistas estudou e comparou mais de oito mil amostras genéticas colhidas de pessoas de todo o mundo.
Andei pesquisando na tarde de hoje e descobri que, segundo Alan Templeton, diferentemente de todas as outras espécies de mamíferos, não há raças entre os humanos porque "as diferenças genéticas entre grupos das mais distintas etnias são insignificantes". Para que o conceito de raça tivesse validade científica, "essas diferenças teriam de ser muito maiores".
Ou seja: não importa a cor da pele, as feições do rosto, a estatura ou mesmo a origem geográfica de qualquer ser humano: geneticamente somos muito semelhantes.

Muitas pessoas têm conhecimento dessas informações, mas o preconceito continua à tona neste país. O racismo no Brasil é uma atitude de ignorância ?
87% das pessoas de nosso país admite que há discriminação racial, mas apenas 4% da população se considera racista. 
Então, responda: Há racismo sem racistas?

Ronaldinho ( Ronaldo) disse  em alto e bom som que não é negro ;muito embora seja um

homem visivelmente negro e agora?. Nem mesmo sua retratação serviu para pôr panos quentes no assunto. Quando um dos maiores ídolos brasileiros da atualidade não assume suas raízes, é natural que a pergunta assuma proporções ainda maiores...
Para aqueles que se aceitam como negros, saibam que a vitória se encontra nas batalhas vencidas. Continuaremos lutando contra a discriminação e o racismo neste país e enchendo nosso peito de orgulho de cada um desses indivíduos vitoriosos. As correntes já foram quebradas, mas ainda não conquistamos a total liberdade: desconhecemos do que se trata. O negro nunca sentiu em sua pele escura a real sensação de estar totalmente liberto e talvez por isso a vergonha de alguns de seu alto reconhecimento e negação de sua identidade. Falaremos de nossos antecessores com orgulho e satisfação, agradecendo humildemente por terem feito parte da bela história de nossas vidas. Nossas origens se encontram em cada gota de suor que caiu dos teus rostos
.A nossa contribuição Lingüística
Palavra portuguesaPalavra mais usada no BrasilLíngua de origem
InsultarXingarDo quimbundo xinga (injuriar, ofender)
DormitarCochilarDo quimbundo koxila (cabecear com sono)
TrapoMulamboDo quimbundo mulambo (trapo, roupa esfarrapada)
BenjamimCaçulaDo quimbundo kazuli (o filho mais moço, o último da família)
Óleo-de-palmaDendêOrigem africana (palmeira do Congo e da
Guiné, introduzida no Brasil desde o século XVI)
NádegasBundaDo quimbundo mbunda (nádegas, assento)
VespaMarimbondoDo quimbundo ma, prefixo plural da quarta classe +
rimbondo, vespa (inseto, vespa)
SineteCarimboDo quimbundo ka, prefixo diminutivo + rimbu, repartições
(objeto usado nas repartições e casas de negócio)
AguardenteCachaçaOrigem africana (aguardente)

Nossa conquistas:
O espaço para este povo já foi negado há muito tempo, sendo que a abolição da escravatura não foi suficiente para esta conquista libertária. Todos os avanços relacionados com a posição do povo negro, dentro ou não de forças políticas, foram resultados de seu próprio trabalho e mobilizações.


Porém, muitas dessas conquistas incomodam o senso comum, sendo que muitas pessoas desvalorizam as lutas dos(as) negros(as), argumentando que estes(as) já conseguiram o suficiente, e que portanto não há do que reclamar. Ou então, consideram os(as) negros(as) como pessoas ingênuas e facilmente manipuladas por organizações políticas. O racismo ainda está presente e contextualiza os espaços das universidades, da mídia, dos livros literários… Mas, pelo que parece, há situações em que os(as) negros(as) não têm o apoio em suas lutas nem mesmo de movimentos sociais. Pelo contrário, nota-se, já há algum tempo, a presença de “militantes” que estão do lado do(a) agente opressor(a), algo bastante contraditório. E isto faz com que o Movimento Social Negro tenha que agir com mais empenho, para enfrentar este inimigo mascarado.Todo este incômodo provocado pela ascensão do povo negro faz parecer que suas atitudes estão sendo vigiadas, com o objetivo de encontrar um vacilo, pequeno que seja, para argumentar que sua conquista foi pautada em ações que ofuscam a luta dos(as) próprios(as) negros(as).

Neste escrito, serão pontuadas quatro áreas nas quais os(as) negros(as) estão conquistando e fazendo valer sua identidade, mas que devem ser analisadas, para que o caminho não seja vencido pelo conformismo.A conquista da identidade.

As conquistas do povo negro e a valorização de sua identidade caminham juntas, mas são os(as) próprios(as) negros(as) que podem se deixar enganar. Até mesmo militantes do Movimento Negro deixam se entorpecer por meias conquistas, se convencendo que é pouco,
mas que “é melhor do que nada”. Ainda há muito que lutar e não deixar que organizações oportunistas se apropriem das causas negras. O conformismo é um grande vilão na militância pelo reconhecimento dos direitos do povo.
"O racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa nem autocrítica".


Um afro abraço.

Claudia Vitalino.
Fonte:www.dhnet.org.br/.../paulo_freire_visao_mundo_homem_sociedade.pdf/biblioteca.asav.org.br/vinculos/tede/NildaFranchi.pdf/racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/88/artigo9206-1.asp

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Resolução do encontro Nacional de Mulheres da UNEGRO:Carta de Vitória

Declaração do Encontro Nacional de Mulheres da UNEGRO - Carta de Vitória                                                      
Reunidas no Encontro Nacional de Mulheres da UNEGRO, realizado de 25 a 27 de julho, em Vitória/ES, dando continuidade à efetiva inserção nas lutas das mulheres negras, cujas diretrizes foram aprovadas no “I Colóquio Internacional de Mulheres Negras na Geopolítica” realizado em novembro de 2008 na cidade de Salvador/BA, declaramos que o evento ocorre num ano eleitoral carregado de simbolismo, pois o povo brasileiro avaliará a primeira experiência de um mandato presidencial encabeçado por uma mulher. Não se trata de qualquer mulher, mas uma Presidenta que teve apoio da UNEGRO e da maioria do Movimento Negro Brasileiro por representar a continuidade do Governo Lula, guardar profundas convicções progressistas, sensibilidade e determinação em combater, com os meios de que dispõe, a desigualdade sociopolítica entre homens e mulheres.  Diante disso, além do necessário debate sobre políticas públicas de enfrentamento á violência, desigualdade salarial, mortalidade materna, inobservância de direitos sexuais e reprodutivos, tráfico de mulheres e escravidão sexual, dentre outros agravos decorrentes do patriarcado, do machismo e do racismo, faz-se necessário avaliar as condições em que estão inseridas e propor medidas que contribuam com a ascensão de mulheres, em especial as negras, em espaços de poder e supere a sub-representação nos parlamentos, executivos e nas altas instâncias judiciárias.

Sempre quando se refere à base socioeconômica da população brasileira está se falando em maioria de negras e negros; por isso, as políticas sociais empreendidas pelo Governo Federal estão beneficiando diretamente as mulheres negras, exemplos como o Programa Bolsa Família e o Programa de Habitação Popular Minha Casa, Minha Vida, em que o cartão do banco vai direto às mãos das beneficiárias e a habitação registrada no nome da mulher, têm influenciado as relações de gênero nos estratos mais pobres da população, na medida em que fortalecem as titulares dos benefícios livrando-as da dependência que a submete na relação. Outra iniciativa importante que impactou positivamente sobre as condições materiais e simbólicas das mulheres negras foi a PEC das Empregadas Domesticas, pois resgatou
direitos trabalhistas universalizados e consolidados aos trabalhadores desde o governo de Getúlio Vargas na primeira metade do século passado. Além de permitir o exercício da cidadania negada desde 13 de maio de 1888. Setores reacionários da classe média brasileira estão indignados com a nova Lei, após a PEC ser sancionada as trabalhadoras domésticas adquiriram um poder inimaginável para as mentalidades reacionárias, ou seja, o poder de negociar as condições que venderá sua força de trabalho – Para os racistas, tal possibilidade significa um atrevimento inaceitável, quanto que para o Movimento Negro trata-se de mais um resquício da escravidão enterrado a partir da luta protagonizada por mulheres negras. As políticas de ações afirmativas voltadas a população negra, mais destacadamente as políticas de inclusão no Ensino Superior, têm beneficiado assertivamente as mulheres negras. Dados indicam evolução da presença de jovens negras no Ensino Superior, de 15% a 21%, entre 2003 e 2009. Na educação é possível encontrar os mais alvissareiros registros do sucesso das políticas de igualdade racial do atual governo e da efetiva incorporação de mulheres negras. As políticas, programas e projetos sociais que atendem a prioridade de Lula e Dilma e as políticas focadas na população negra são emblemáticas na diferença de governos comprometidos com o povo e os que governam segundo os interesses dos mais ricos, por isso considerarmos que o Governo Dilma foi positivo ao país, para as mulheres negras e ao povo, no entanto, há muito que ser feito no sentido de criar condições para emancipar da pobreza, do machismo, do racismo, da discriminação e do preconceito as 50 milhões de mulheres negras, correspondentes a mais de um quarto da população brasileira.

Nas questões estruturantes que definem as condições e qualidade de vida, apesar dos vários esforços,  governos e sociedade não têm se empenhado o suficiente para criar caminhos capazes de dar às mulheres negras oportunidades de saírem das margens, elas acumulam desvantagens de várias ordens em relação aos homens brancos, mulheres brancas e homens negros. A expectativa de vida das negras é mais reduzida, dados indicam que 10,3% das mulheres negras atingem 60 anos, enquanto as brancas são 14%. Sabemos que acesso a saúde, saneamento básico, educação, trabalho digno, alimentação adequada, dentre outras, são condicionantes de longevidade. Das famílias chefiadas por mulheres, 51,1% são negras, apenas 4,5% delas vivem sozinhas, a maioria é mulher com filho e casal sem filho (55,2% e 52,4% respectivamente), dessas 69% sobrevivem com renda familiar até um salário mínimo, esses fatores são indicadores de maior concentração de pobreza e fragilidades, que se retroalimentam. Somente com medidas de fortalecimento educacional e econômico será
possível que essas famílias saiam do círculo vicioso da marginalidade.
As assimetrias se agudizam quando se trata da participação na renda e riqueza nacional, e no mercado de trabalho; apesar do aumento médio em suas rendas as mulheres negras continuam na base socioeconômica da população brasileira, recebem, de acordo om o IPEA, 51% da média salarial das mulheres brancas mesmo em atividades iguais.  Nas questões de violações de direitos pela violência os dados também confirmam a maior vulnerabilidade das mulheres negras. No Brasil, no período de 2001 a 2011, estima-se que ocorreram mais de 50 mil homicídios de mulheres, o que equivale a quase  5.000 mortes por ano, parte destes óbitos foram decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher, uma vez que um terço deles tiveram o domicílio como local de ocorrência. Cerca de 61% dos óbitos foram de mulheres negras, que foram as principais vítimas em todas as regiões, à exceção da Sul. O Brasil assiste em silêncio um hediondo feminicídio. Nesse período as mulheres jovens foram também as principais vítimas: 31% estavam na faixa etária de 20 a 29 anos e 23% de 30 a 39 anos. Mais da metade dos óbitos (54%) foram de mulheres de 20 a 39 anos. As principais vítimas da violência homofóbica/lesbofóbica/transfóbica são adolescentes e jovens de 15 a 29 anos de idade (47,1%), sendo 16% adolescentes entre 15 e 18 anos, e 31,1% jovens de 19 a 29 anos de idade. No critério raça/cor, a população negra e parda também aparece no topo da lista das vítimas: 51,1% das vítimas são negras e 44,5% brancas. Conforme dados da OMS/OPAS.

Na atenção a saúde das mulheres negras o racismo institucional acentua a precarização do atendimento, estereótipos racistas orientam posturas profissionais, por isso, as mulheres negras recebem atenção desigual no sistema de saúde, são as menos examinadas nas consultas médicas, menos anestesiadas e as maiores vítimas de morte por causas evitáveis (90% das mortes).  Em relação ao campo da representação política o racismo se explicita sem nenhuma cerimônia, a população brasileira é composta de 50,6% de negras e negros, entretanto, nos parlamentos (Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e Distritais) é de apenas 8,9%, conforme Balanço do Voto Étnico Negro realizado pela UNEGRO nas eleições de 2006 a 2010. Nos 40 Ministérios apenas o da Igualdade Racial a titular é negra; dentre as 50 maiores estatais nenhuma é presidida por mulher ou homem negro. Apesar de Dilma ter aumentado a presença de mulheres nos altos escalões da República, mas não incorporou, nessa correta medida as mulheres negras. Há apenas uma Senadora negra num universo de 81 senadores, 1,2% do total; dos 513 Deputados Federais apenas 04 são mulheres negras, ou seja, 0,8% da Câmara dos Deputados.

Para UNEGRO, a maior distorção da democracia brasileira se dá no campo da representação política, daí a necessidade de reformas no sistema político, mais destacadamente a reforma política. Defendemos uma reforma que democratize a nação, incorpore o povo, fortaleça as instituições partidárias, garanta a presença de mulheres e negras nas listas partidárias. Para isso somaremos aos esforços dos movimentos sociais que crescentemente têm pautado a reforma política. Além da reforma política será necessário um processo de convencimento da população negra visando maior participação política e consciência que a responsabilidade inicial de ascender negras e negros no poder não pode ser delegada a segundos.
Consideramos que as forças políticas que atualmente governam o país são as únicas com condições de assumir novos compromissos com a população negra com vista a superar a dívida histórica que a nação tem com as mulheres negras. Por isso, defendemos a continuidade de Dilma Rousseff na Presidência da República com a certeza que aprofundará a mudança.

Apoiamos Dilma por:
- Ampliar as políticas públicas, aprofundando as transformações na educação brasileira, utilizando os 10% do PIB e executando as metas previstas no PNE visando garantir educação de qualidade a todas as brasileiras e brasileiros, com professoras bem formadas e bem pagas, políticas efetivas de permanência com universalização das bolsas, ambiente saudável nas escolas bem equipadas, reconhecimento dos estudantes como sujeitos do processo de aprendizagem, revolução curricular e efetiva implementação da lei 10.639/03 e uma educação libertadora que supere e desconstrua os estereótipos de gênero, raciais, geracionais e de orientação sexual;
- Implementar uma Política de Trabalho Decente voltada às mulheres negras, buscando enfrentar estereótipos racistas persistentes no mundo do trabalho, garantir salário igual para trabalho igual, enfrentar o desemprego, subemprego e precarização das condições de trabalho das mulheres negras, permitir condições de conciliação trabalho-estudo-vida familiar;
- Pela imediata regulamentação do trabalho doméstico no Brasil, reconhecendo os direitos dessas trabalhadoras, qualificando a Justiça do Trabalho a conscientizar a população e combater quaisquer desrespeitos aos seus direitos;
- Aprovação da Reforma Política que combata o financiamento privado das campanhas, incorpore as demandas populares, fortaleça as instituições partidárias, garanta a presença de mulheres e negras nas listas partidárias;
- Universalização das creches públicas, sobretudo nas periferias de todas as cidades brasileiras, e ampliação da educação em tempo integral visando oportunizar às crianças e jovens negras e negros maior qualidade e oportunidades de qualificação educacional;
- Promoção de políticas públicas voltadas à qualificação das mulheres negras nas áreas de tecnologia de ponta e de produção científica estratégicas ao país;
- Ampliação das campanhas de combate à violência doméstica intrafamiliar, assédio moral e sexual e das ações do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres de modo que ela proteja a vida das mulheres negras e eduquem a nossa sociedade outra forma de relação com as mulheres;
- Pela ampliação das políticas voltadas à garantia da vida e à promoção de seus direitos por meio do acesso às políticas de desenvolvimento, autonomia e emancipação de jovens homens e mulheres negras, vitimados pelo genocídio da juventude negra;
- Pelo fortalecimento do SUS, implantação da política integral da população negra, combate ao racismo institucional na saúde, humanização no atendimento, implantação do quesito cor em todos os documentos e sistema de informação do SUS.
- Pela reformas democráticas: meios de comunicação, urbana, rural, judiciária e tributária;
- Pelo enfrentamento e superação de toda forma de racismo e sexismo institucionais;
- Por financiamento a políticas públicas voltadas a cultura e comunicação que contribuam para a desconstrução de esterótipos racistas, sexistas e lesbofóbicos, e que tenham nas mulheres negras as protagonistas dessas ações.

Por fim queremos convocar todas as Uunegrinas a fortalecer as articulações e protagonismo político do Fórum Nacional de Mulheres Negras, e suas seções estaduais, pois acreditamos que este é um espaço privilegiado de debate e articulações políticas visando a organização coletiva e a incidência política das mulheres negras nos temas da agenda nacional. Nesse esteio consideramos que ao lado da participação no processo eleitoral também seja uma prioridade para as mulheres unegrinas a construção da I Marcha Nacional das Mulheres Negras contra o racismo e a violência e pelo bem viver a ser realizada em 13 de maio de 2015 em Brasília e que já estão sendo montados e articulados Comitês em todo o Brasil.

Vitória/ES de 25 a 27 de julho de 2014
UNEGRO- União de Negros Pela Igualdade


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