UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

domingo, 29 de janeiro de 2017

“Qual é o conceito de Burguesia Negra ...

Burguesia negra ???
A discussão tem  a finalidade de dissidir e não de levantar esta bandeira e linfatizar

que: não nos interessa a proposta de uma adaptação aos moldes da sociedade capitalista . Esta não é a solução que devemos aceitar como se fora mandamento inelutável. .Um caminho caminho de compartilhar o poder para a população negra , fundada em sua experiência histórica, na utilização do conhecimento crítico e inventivo de suas instituições golpeadas pelo colonialismo e pelo racismo...A aristocracia passa a se desenvolver totalmente dependente do mercado criado e sustentado pela burguesia, sendo apenas uma financiadora cada vez mais desnecessária frente a alta acumulação que o mercantilismo é capaz de propiciar à burguesia: a troca de mercadoria humana na África pelas mercadorias de alto valor de troca da colônia para serem levadas à Europa geram lucros inestimáveis para qualquer cálculo que façamos hoje. A consequência não poderia ser outra: a burguesia torna-se mais poderosa do que a aristocracia, e o poder determinado nas mãos da última deixa de satisfazer o primeiro impulso de classe da burguesia, que a partir do meio do séc XVIII começa a se ampliar sua área de atuação e de lucro, e se ver limitada pelos acordos Absolutista.
Introdução:
No transcurso da colonização, surgiu uma pequena-burguesia negra: camada social de africanos constituída de funcionários da colônia, trabalhadores especializados em diversos ramos da indústria, empregados do comércio, profissionais liberais e um número - ainda que diminuto - de proprietários urbanos e rurais. A elite negra situava-se socialmente entre as massas trabalhadoras africana e a minoria de brancos, representantes da metrópole. Apesar do contato com as massas camponesas e culturas tradicionais africanas, aquela pequena-burguesia negra aspirava ter um nível de vida equivalente ao dos brancos. Para tanto incorporavam os hábitos, roupas, língua e arquitetura do colonizador. As negras em

alguns casos alisavam os cabelos e buscavam clarear a pele. Porém, os negros da África e da diáspora que haviam assimilado o branqueamento, não conseguiam fugir do drama da marginalização. Vestidos a moda européia “de terno, óculos, relógio e caneta no bolso do paletó, fazendo um esforço enorme para pronunciar adequadamente as línguas metropolitanas", não deixavam de ser discriminados. No plano social, continuavam sendo negros e, conseqüentemente, tratados como inferiores.


"O termo burguesia negra surgiu, pela primeira vez, nos Estados Unidos, na obra "Black Bourgeoisie", publicada em 1957 por E. Franklin Frazier, relativamente às famílias de classe média negra. Segundo a obra de Frazier, a atitude da classe média negra, ou das famílias afro-americanas que aspiram a esse estatuto social, distancia-se dos problemas das classes trabalhadoras e pobres da comunidade a que pertencem. Frazier ressalta o facto de que a chamada burguesia negra se preocupa mais com a imagem da sua posição social do que com a construção de uma base social e econômica para a comunidade afro-americana nos EUA".

Se liga gente: A escravidão, enquanto elemento lucrativo, jamais foi questionada fortemente pelo iluminismo.

Entretanto, esse fervilhar de ideias faz com que no Haiti toda a população que havia passado pela experiência da libertação americana (financiada pela França e composta por exércitos negros do Haiti) passe a questionar seu embargo econômico e a condição de sua população, e começa a reivindicar que seja ele também um país pertencente a nova onde de liberdade que vive a burguesia francesa e americana.

O Haiti, através de seu processo revolucionário, foi capaz de romper suas amarras, e passou por uma série de ataques vindos da sua ex metrópole contra seu sucesso: logo após sua independência, a França invade a ilha e mata Toussaint de Louverture, principal líder da Revolução e governador da recém República. Dessalines reorganiza o exército e em 1803 derrotam os franceses. Desde então, o Haiti já sofreu, como castigo ao seu excesso libertário,

um forte embargo econômico de 60 anos, uma multa de 150 milhões de francos de indenização aos franceses pela perca da colônia. Entre 1915 e 1934, o território foi ocupado pelos EUA, com a justificativa de proteger interesses americanos (bem parecidos com o propósito do norte da África…). Desde então o país passa por todo tipo de intervenções de Estados e exércitos, visando seu silêncio e seu controle para que não se vasasse pelo mundo a história de sucesso (que poderia ser) de uma colônia liberta pela luta, escravos libertos pelas próprias mãos.

Tal elemento foi fundamental para que todos os países que antes eram colônias francesas só avistassem sua libertação nacional em meio à crise capitalista que a burguesia passou na década de 60 do séc XX – onde a França conseguiu, com sucesso, passar quase dois séculos sem que nenhum domínio colonial fosse questionado.

Desde o surgimento do capitalismo e das ideias iluministas, a questão do povo negro ainda não foi resolvida. É preciso que questionemos, como nos faltou questionar no século XVII, XIX e XX, porque continuam existindo, e romper com a ideia de que se mantém por mera anacronia, e que faz parte de um elemento retrógrado na realidade mundial. Se fosse interessante para a burguesia romper com o racismo, teria o feito assim como rompeu com o teocentrismo e centralizou o poder sobre a matéria e sobre os que a possuíam. As defesas democráticas da burguesia estão ligadas diretamente de quanto dependem suas necessidades econômicas – se não é lucrativo libertar escravos, continuarão acorrentados; se não é lucrativo se abdicar da colônia haitiana, esta continuará servindo aos interesses mercantis da França revolucionária. Principalmente, se não é interessante economicamente deixar ao povo negro haitiano suas terras livres para sua autogestão, acionarão EUA, Comissão de Paz da ONU e manterão aprisionado o povo negro do Haiti, congelando o sucesso de sua vitória.
O movimento Black Power utilizou a expressão burguesia negra de uma forma negativa para
identificar uma franja da classe média que tinha tendências de integração e identificação com a comunidade branca, nomeadamente quanto ao tratamento e à atitude discriminatórios relativamente à classe trabalhadora pobre e negra. 
Por arrastamento, eram considerados também de burguesia negra todos aqueles que não estivessem envolvidos nos movimentos civis de lutas sociais e políticas da comunidade afro-americana. 

O sociólogo William J. Wilson salientou as semelhanças em termos de educação e progressão social observadas entre as classes médias negra e branca, enquanto que a classe pobre negra se distanciava cada vez mais em termos sociais, econômicos e mesmo geográficos da burguesia negra. Por seu lado, o autor Abdul Alkalimat defende que a posição da classe média afro-americana teve duas vertentes, já que as barreiras sociais que foram eliminadas de pouco serviram às classes economicamente desfavorecidas daquela comunidade. Se por um lado desencadeou grandes mudanças no seio da sociedade norte-americana ao aceder à educação e ao emprego qualificado com a consequente ascensão social e econômica, por outro essas mesmas conquistas foram usadas para silenciar as classes trabalhadoras e pobres afro-americanas cuja situação não se alterou muito nas últimas décadas.
 

Voltando...
"A partir do Século XIX, muitos pensadores começaram a levantar teorias sobre a origem do patriarcado. Alguns afirmaram, e ainda afirmam, que o domínio masculino sobre o feminino é da natureza. Que, naturalmente, os machos são dominadores. Mas os pensadores mais importantes que mais convenceram neste aspecto o pensamento contemporâneo foram Marx e Engels." 

A abolição da escravidão entrou fortemente nesse jogo, pois combatida como excesso, jamais teve questionado seu elemento mais fundamental, pois ainda era preciso, e ainda o é, que a divisão pelo racismo em meio ao trabalho continue existindo. Basta que analisemos o trajeto histórico da transição da escravidão negra em todo mundo para o trabalho livre, onde contamos com países como EUA e África do Sul onde o racismo foi constitucional, e casos como o Brasil, onde a ideologia e as relações de trabalho cumpriram o mesmo processo. principal desafio do marxismo hoje é conseguir dar conta de reconstruir a direção que seguiu a burguesia, desde sua ascensão até o momento de crise estrutural que vive, notando que em todo esse processo, o racismo e o imperialismo sempre foram e sempre serão suas bases essenciais.

 Foi a razão pela qual, sem a menor organização consciente, conseguiu arrancar a aristocracia de todos os seus tronos. Foi a razão pela qual, por toda a existência do capitalismo, conseguiu superexplorar os trabalhadores brancos sob a ameaça de serem substituídos pelos miseráveis negros, que inflam dia a dia as filas de desemprego. Foi somente pelo racismo que a burguesia conseguiu justificar, sem Deuses ou outros mundos, sua superioridade enquanto raça e enquanto cultura, dominante sobre qualquer outra forma de vida não branca/européia. Enfim, é somente assim, pela situação de miséria justificada pelo racismo, que a burguesia consegue hoje superexplorar os territórios semi-colonizados da África, estabelecer as grandes Agroindústrias no Brasil e na África do Sul.
Na Grã-Bretanha, a burguesia negra surge nos finais da década de 80 constituída por empresários africanos, caribenhos e sul-asiáticos que se organizaram de forma a estabelecerem as suas pequenas ou médias empresas como reação de décadas de pobreza nunca resolvidas pelas diferentes políticas sociais levadas a cabo pelo Governo britânico. Embora este surto de livre iniciativa estivesse de acordo com as políticas neoliberais do Governo de Margaret Thatcher, a verdade é que a burguesia negra se deparou com uma série de dificuldades reais. Entre essas dificuldades estava o acesso difícil ao crédito bancário, a expansão das empresas para mercados fora dos das minorias étnicas e por último o facto de, nessa expansão, serem obrigados na prática a contratar empregados brancos já que muitas das empresas, organizações e bancos mostravam a sua preferência em lidar com brancos. Temendo perder as oportunidades de negócios muitas destas empresas da burguesia negra optaram por praticar o racismo como procuradores de interesses alheios.

Eles demonstraram que a divisão sexual do trabalho dava origem a uma divisão social do trabalho, levando ao aperfeiçoamento das tecnologias, dando origem ao excedente (lucro). Tais excedentes, usados como valores de troca, originaram uma classe dominante que, vivendo destes excedentes, escravizou, criou a propriedade privada, em detrimento da comunidade. Segundo Engels, nessa época o sexo feminino é dominado e reduzido ao âmbito privado, para fornecer o maior número de filhos para produzir mais, defender a terra e o Estado. A supremacia masculina surge, pois, com a cultura competitiva do excedente, em que as mulheres vão pouco a pouco sendo dominadas para que possibilitem produzir mais riqueza. Instalada a divisão sexual do trabalho, nasceu o patriarcado.

Retornando um pouco...
- Na Grã-Bretanha, a burguesia negra surge nos finais da década de 80 constituída por empresários africanos, caribenhos e sul-asiáticos que se organizaram de forma a estabelecerem as suas pequenas ou médias empresas como reação de décadas de pobreza nunca resolvidas pelas diferentes políticas sociais levadas a cabo pelo Governo britânico.
Embora este surto de livre iniciativa estivesse de acordo com as políticas neoliberais do Governo de Margaret Thatcher, a verdade é que a burguesia negra se deparou com uma série de dificuldades reais. Entre essas dificuldades estava o acesso difícil ao crédito bancário, a expansão das empresas para mercados fora dos das minorias étnicas e por último o facto de, nessa expansão, serem obrigados na prática a contratar empregados brancos já que muitas das empresas, organizações e bancos mostravam a sua preferência em lidar com brancos. Temendo perder as oportunidades de negócios muitas destas empresas da burguesia negra optaram por praticar o racismo como procuradores de interesses alheios.

Finalizando...

Talvez o senso comum nos ajude a descobrir porque, em benefício de uma peculiar ou singular visão de mundo, pedem-nos para sacrificar o nosso juízo e o que os sentidos de todos os homens normais do mundo podem descobrir pela simples e serena observação da realidade, ajudados pelo conhecimento antropológico mais a moral da história é que ser pobre hoje no Brasil é bonito, dá ibope, dá voto, dá credibilidade. Ser rico é motivo vexatório ( imagem criada pela origem historia desta riqueza concentrada e questionável na maioria das vezes e lamentável), é também e sempre, alvo de críticas por sua vida “perdulária” e “luxuosa”, que e visto pela população ao longo processo histórico vicioso que alguns ricos ainda mais ricos e a maioria dos pobres ainda mais pobres...

"-Gente não e uma defesa ou não do capitalismo mais e uma questão que precisamos discutir".

Lutar contra a formação do capitalismo, contra sua manutenção, contra suas reformas cada vez mais precarizantes. É contra a ilusão do nacionalismo, do culturalismo, da luta por fora do combate a um outra classe, e assim, ao lado da classe certa a qual pertencemos: rumo à Revolução proletária. E na vanguarda, os negros e negras que à força deram e dão o sangue que mantém viva a carcaça desse mórbido capitalismo.

Sendo assim e sem mais delongas será que o Brasil é, de fato, "um país capitalista" financiado pela classe burguesa e orquestrada por um grupo sob o hino de democracia, que na verdade é democrática somente para a ótica dos poucos favorecidos economicamente e sempre menos favorecidos o “pobre” que continuam a margem e excluídos de varias formas.

Um afro abraço.


Claudia Vitralino.

fonte:www.cultura.mt.gov.br

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Caetano Veloso - Milagres Do Povo -




Milagre de Resistência da Diáspora Africana -como resistência à colonização e à escravidão...

Por meio da revisão bibliográfica observa-se o intenso intercâmbio cultural ocorrido entre os escravos africanos, os indígenas e os europeus. Essas trocas culturais ocorridas por vários séculos durante o período colonial brasileiro contribuíram para a formação de uma cultura híbrida e bastante rica. No que se refere à contribuição africana é evidente, principalmente, na culinária, dança, religião, música e língua. Percebe-se, que, essa matriz africana teve um papel importante na formação e delineamento da identidade cultural afro-brasileira, uma que, os escravos possuíam uma grande diversidade cultural devido à sua origem distinta e por pertencerem a diversas etnias com idiomas e tradições distintas, pois, eram oriundos de diversas regiões do continente africano. Já, no Brasil esses africanos souberam assimilar, interpretar e recriar certas práticas de outras culturas com os quais estiveram em contato.

As várias religiões que existem hoje no Brasil com origem nos antepassados africanos são produtos de rearranjos culturais da época da escravidão colonial brasileira, na qual o sincretismo religioso existia como forma de resistência para que a população negra pudesse manter sua fé.

Num País de maioria cristã, muitas vezes as religiões de matrizes africanas encaram a intolerância por parte de indivíduos de outros credos. Mas, para o professor, o preconceito vai além de uma questão estritamente religiosa. “O nome ‘intolerância religiosa’ não consegue descrever o que acontece com esses povos. Há várias outras religiões que não são cristãs e não são atacadas da forma que vem ocorrendo, como templos sendo destruídos”.

Na verdade, o preconceito contra religiões de matrizes africanas tem como base o preconceito racial,
no que ele chama de racismo religioso. “São religiões que sustentam um não-cristianismo de origem negra. E a associação do negro e o demônio é algo que está no imaginário há muito tempo. Dizem que é bruxaria, mas temos várias religiões que estão ligadas com ritos mágicos e não vemos esses cultos atacados. Associam os cultos das religiões de matrizes africana ao demônio, mas o demônio nem existe dentro dessas religiões”.

Mobilização contra a discriminação
- Para que seja possível atingir o objetivo de combater a discriminação racial, é preciso o combate ao preconceito nas suas formas mais sutis. Nascimento conta que uma das formas de racismo religioso está nas expressões pejorativas comumente usadas, como se referir aos praticantes de determinadas religiões como “macumbeiros”.

Ele conta que o que é conhecido como "macumba", palavra que na verdade é nome de instrumento musical utilizado em alguns cultos religiosos, surgiu com as práticas religiosas

no Rio de Janeiro no século 19 que articularam a umbanda. Diferente das outras religiões de matrizes africanas, a umbanda junta elementos indígenas, africanos e kardecistas cristãos. Tentar reduzir diferentes práticas e religiões a uma única coisa, para o professor, é uma das formas de preconceito.

É dimensão da estratégia racista achar que todas as religiões fazem a mesma coisa. O que é problemático porque não é verdade", explica. "O uso do vocabulário para falar do mal prega, de forma sutil, que qualquer religião de matriz africana é necessariamente uma coisa ruim. Ao usar esses termos de forma pejorativa, como ‘macumbeiro’, se diz de forma implícita que todas tem a mesma forma e cultuam a mesma coisa: o mal”.

Desse modo, observa-se a formação e a preservação de uma identidade cultural, bastante plural devido às influências: européia, africana e indígena, favorecendo uma riqueza cultural bastante peculiar. Estas peculiaridades multiculturais manifestaram-se, principalmente, na língua, culinária, música, dança alem da religião afrobrasileira dentre outros.


REBELE-SE CONTRA O RACISMO!


Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

Fonte: Portal Brasil

sábado, 21 de janeiro de 2017

Civilizações Africanas:Reino de Mali

O Império Mali foi um estado africano localizado no Noroeste da África, perto do Rio Níger, e que teve seu domínio durante os séculos XIII e XIV. Foi um Império dentre três
consecutivos que dominaram a região, e dentre eles, o Império de Mali foi o mais extenso territorialmente comparado com os outros dois, Songhai e Gana.

Seguindo uma cronologia podemos enumerar o Império de Songhai como o primeiro império que obteve domínio sob a região do rio Niger, seguido pela Império de Gana que desapareceu por volta de 1076 quando foi imposto um governo de berberes e dos muçulmanos até que em 1240, o rei de Mali, Sundiata Keita, foi e os conquistou. Logo após essa decadência e essa conquista, ergueu-se o Império de Mali, que é considerado o maior o maior de todos os impérios medievais africanos.

Porém o Império de Mali foi muito inconstante. Certa vez, durante um período, o reino dos Mossinos que estava localizado na região do Alto Volta (um antigo pais africano cuja atualmente se tornou o pais Burquina Fasso) dominou uma parte de Mali e chegou até mesmo a saquear a sua capital. Mali posteriormente conseguiu recuperar o seu poderio sob a região sob a chefia de Suleimã, que governou Mali de 1341 a 1360.

O Império teve seu apogeu no inicio do século XIV com o governo de Mansa Mussa, que foi o responsável por converter todo o Império para o Islamismo. Em sua peregrinação a Meca (como costume de um islã) Mansa Mussa teve o acompanhamento de cerca de 15 mil homens, dizem que nessa comitiva tinha cerca de 100 camelos e uma expressiva quantidade de ouro. E nessa peregrinação ele trouxe para Mali vários mercadores e sábios que ajudaram na divulgação da religião islâmica. Foi Mussa que trouxe também o poeta-arquiteto Abu Issak, conhecido também como Esseheli, que foi quem planejou a grande mesquita de Djingareiber que teve inicio sua construção em 1325 e foi terminada por Kandu Mussa.

Quando retornou ao seu Império, Mansa Mussa, determinou a construção de escolas islâmicas na capital do Império. Assim a capital que era conhecida por ser um grande centro comercial ficou conhecida também como um grande centro de estudos religiosos. Referindo-nos ao comércio o Império controlava as principais rotas comerciais

transaarianas da costa sul ao norte. Dentre os principais produtos comercializados estavam o ouro, o sal, o peixe, o cobre, escravos, couro de animais, nós de cola e cavalos.

Se liga:Na era colonial, Mali ficou sob o controle francês no fim do século XIX. Rumo a 1905, toda a sua área estava sob controle francês, fazendo parte de Sudão Francês. No início de 1959, Mali e Senegal se uniram, tornando-se a Federação do Mali. A Federação do Mali conquistou a sua independência da França em 20 de agosto de 1960, onde a retirada da federação senegalesa permitiu que a ex-República do Sudão formasse a nação independente do Mali, e, 22 de setembro de 1960. Modibo Keita, que foi chefe de governo da Federação do Mali até sua dissolução, foi eleito o primeiro presidente. Keita rapidamente estabeleceu um único estado à parte, adotando uma orientação africana independente e socialista de fortes laços com o oriente, e realizou uma ampla nacionalização dos recursos econômicos.

Em 1968, como resultado de um crescente declínio econômico, o mandato de Keita foi derrubado por um sangrento golpe militar liderado por Moussa Traoré. O regime militar subsequente, de Traoré como presidente, tentou realizar reformas econômicas. Apesar disso, seus esforços foram frustrados pela instabilidade política e uma devastadora seca

que ocorreu entre 1968 e 1974. O regime Traoré enfrentou distúrbios estudantis que começaram no final dos anos 70, e três tentativas de golpe. No entanto, os dissidentes foram suprimidas até o final da década de 80.
O governo continuou a tentar implantar reformas econômicas, mas a sua popularidade entre a população diminuiu ainda mais. Em resposta à crescente demanda por uma democracia pluripartidária, Traoré consistiu uma liberalização política limitada, mas negou a marcar o início de um pleno sistema democrático. Em 1990, começaram a surgir movimentos de oposição coerentes, mas estes processos foram interrompidos pelo aumento da violência étnica no norte do país, devido ao regresso de muitos tuaregues ao país.

Novos protestos contra o governo ocorreram em 1991 levaram a um golpe de estado, seguido de um governo de transição e a realização de uma nova constituição. Em 1992, Alpha Oumar Konaré venceu as primeiras eleições presidenciais democráticas de Mali. Após sua reeleição em 1997, o presidente Konaré pediu reformas político-econômicas e lutou em combater a corrupção.
-Em 2002, foi substituído por Amadou Toumani Touré, um general que liderou um outro golpe de estado contra a democracia militar imposta em 1991. Hoje, o Mali é um dos países mais estáveis de África no domínio político-social.
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

fontes:http://pt.wikipedia.org/wiki/Império_Mali/http://civilizacoesafricanas.blogspot.com/2009/12/imperio-mali.html/http://www.infopedia.pt/$imperio-do-mali

29 de Janeiro - “TIRE O RESPEITO DO ARMÁRIO”

É necessário humanizar as pessoas Trans?
Na semana do Dia internacional da Visibilidade Trans, temos uma série de pontos ainda muitas conquistas pela frente. A questão da visibilidade é de especial atenção para a
população Trans. Temos muito que avançar e muito o que conseguir. Somente com um diálogo franco e aberto poderemos vencer barreiras e tornar possível uma mudança de paradigma no quadro de preconceito, invisibilidade, falta de acesso aos serviços públicos, falta de acesso ao pleno emprego, entre outras demandas dessa população. Quando falamos de pessoas Trans negras então, podemos pensar em como os direitos humanos desses cidadãos e cidadãs podem ser afetados.

Mas quem são as pessoas Trans e o que querem? Por que há necessidade de visibilidade desta comunidade? É necessário humanizar as pessoas Trans?

Para deixar claro, neste texto, define-se Pessoas Trans* (assim com um asterisco mesmo) como indivíduos cuja identidade de gênero é diferente do modelo tradicional de gênero estabelecido (Cisgênero) e que inclui Homens e Mulheres Trans, Travestis, pessoas Intersexuais, Transgêneros e todas as outras identidades. Quem são esses indivíduos? Qual as questões que emergem quando pensamos neles, o que vem à mente? E quando mesclamos duas identidades que parecem completamente distintas (pelo menos em discurso), ser negro e ser Trans*?

Na sociedade existe um tabu entorno das questões Trans. Um certo desconforto em falar

dessa temática, exposto nos rostos, nos sorrisos de meia boca, no modo expressivo e até com chacotas. A ignorância da sociedade em relação as questões que se referem à identidade de gênero é a causa disso. Não se dão conta do fato de que existe uma identidade de gênero[1] em conformação com o corpo ou não e que, quando estas identidades estão em conflito, as identidades Trans* emergem e se revelam. Nossa tradição judaico-c
ristã, o machismo e o sexismo criaram um ambiente que não privilegiam a aceitação na sociedade daqueles que desviam da norma tida como padrão. Pessoas Trans* são vistas como aberrações, como desviantes da única norma possível e aceitável. Essa normatividade se apresenta como natural não permite espaço para existência de pessoas Trans*.

A situações de confronto e violência se encontram nos discursos de negação e não param neles. Se externam e são existentes nos silêncios, nas risadas, no afastamento, na perversidade, na negação das identidades, na discriminação e na violência. Há também o incessante “patrulhamento” dos corpos Trans*, as pergunta feitas a respeito são sempre no sentido de apontar uma possível masculinidade ou feminilidade, de saber quais interventos cirúrgicos foram ou não realizados, o que é ou não real, a patologização ou a classificação da transexualidade como transtorno psíquico, contribui para a manutenção do estigma. A tudo isso alia-se os fervorosos discursos religiosos e fundamentalistas que contribuem e incitam o ódio a essa população. Esse processo constante de desumanização pelo qual passam pessoas Trans* torna possível e fácil a justificativa de crimes transfóbicos, crimes de ódio. Quando deixamos de considerar essas pessoas como parte da sociedade, como humanas, torna-se mais fácil a demonstração do desconforto, preconceito e ódio, como se fossem algo justificável e que pode ser feito. Como se não fosse o que realmente é. Preconceito baseado em ignorância e estereótipos que alimentam-se de si mesmos e que servem como justificativa para qualquer ato de discriminação.

Dados negativos e aterradores cercam esta comunidade de pessoas, que tem na identidade de gênero como traço distintivo, mas que é tão heterogênea e diversa dentro de si. No ano de 2013 ocorreram de 130 assassinatos de pessoas Trans aqui no Brasil, crimes de ódio,

alguns com requintes de crueldade e que podem ser muito mais devido aos casos subnotificados. O relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República[2] reportou mais um aumento de mais de 166% das denúncias crimes e violações de direitos humanos, dos quais mais de 11% eram de pessoas Trans*. A esse ódio e aversão ou a qualquer atitude de desprezo ou não aceitação contra pessoas Trans* damos o nome de Transfobia – o ódio e aversão a pessoas Trans. Pessoas Trans em sua maioria tem pouco ou nenhum acesso à educação formal, à saúde entre outros serviços básico que o Estado brasileiro deveria oferecer a esses indivíduos. Não tem direito ao pleno emprego. Salvo o caso de pessoas mais abastardas, o que temos como realidade populacional é que 90% dos indivíduos que fazem parte deste contingente já se viram ou ainda são forçados a algum tipo de trabalho e exploração sexual, pois sua identidade de gênero destoante da maioria os impede de serem efetivos cidadãos, como se sua cidadania fosse negada a partir de sua identidade de gênero.E quando falamos de pessoas Trans* negras? As perspectivas e constatações são ainda piores. Essa dupla vulnerabilidade se potencializa e pode ser vista na sociedade brasileira.
Num recente relatório, a organização americana Global Rights expôs a situação de violação dos direitos humanos de mulheres brasileiras trans e negras[3] evidencia a falta de dados específicos com relação a essa população nos bancos de dados e pesquisas, bem como o grau de invisibilidade e de acesso dessa população. Após a publicação desse relatório realizou-se uma denúncia à Corte Interamericana de Direitos Humanos – CIDH, que foi acolhida. A CIDH realizou em outubro do ano passado uma audiência[4] onde acolheu tal denuncia, cobrando das autoridades brasileiras uma resposta. Na verdade, os números inexistentes e depoimentos de ativistas Trans* negros contribuíram para demonstrar a situação de desvantagem e os abusos contra seus direitos básicos. Ser negro na sociedade brasileira pode ser desafiador, ser uma pessoa Trans* e negra, pode ser insuportável. O auto índice de analfabetismo e marginalização dessa população requer medidas imediatas de ação. Políticas públicas que garantam seus direitos. Mais do que isso é necessário um debate sério entre a comunidade negra e a sociedade em geral, para que o problema possa ser enfrentado em conjunto e as ações implementadas tenham real efeito.

Diante dos fatos, mais uma vez, levantamos a questão tema deste artigo. 

É necessário humanizar as pessoas Trans*? A resposta óbvia seria um sim. Mais do que apenas proteger os direitos das pessoas Trans*, a visibilidade, o debate aberto e objetivo, que integre a temática Trans* e de visibilidade ao tema com a delicadeza necessária, são apropriados para humanizar essas pessoas e promover a inclusão e igualdade que desejamos para nosso país. É importante abranger a multiplicidade das identidades Trans como tema comum e falarmos de como pessoas Trans* podem se integrar sendo negras ou deficientes, e como essas barreiras podem ser vencidas. Necessário e urgente é promover o debate dentro do movimento negro, o movimento feminista e todos os outros movimentos sociais. Somente assim poderemos garantir uma sociedade sóbria e com conceitos sólidos de igualdade, superando as diferenças, abraçando-as e permitindo que nossas conquistas coletivas sejam para todos os cidadãos brasileiros de fato e de direito. Afinal de contas, ser Trans* é apenas mais uma maneira de ser humano.

Afro abraços!
Respeitosamente,

Marisa Justino
Núcleo Nova Iguaçu Coordenação Estadual da UNEGRO LGBT.

Foto:Texto de Alessandra Ramos
fonte:Tradutora/Intérprete, graduanda em Produção Cultural e ativista em Direitos Humanos.-Ato pelo Dia Nacional da Visibilidade Trans*, 2013. Grupo Pela Vidda/RJ e TransRevoluçao. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Iemanjá - Lenda, Mito e Sincretismo Religioso

Sincretismo é a fusão de diferentes doutrinas para a formação de uma nova, seja de caráter filosófico, cultural ou religioso. O sincretismo mantém características típicas de todas as suas doutrinas-base, sejam rituais, superstições, processos, ideologias e etc.

Etimologicamente, a palavra "sincretismo" se originou a partir do grego sygkretismós, que significa "reunião das ilhas de Creta contra um adversário em comum", que por sua vez foi traduzido para o francês syncrètisme, dando origem, consequentemente, à variante na língua portuguesa. 
No Brasil, a orixá goza de grande popularidade entre os seguidores de religiões afro-
brasileiras e até por membros de religiões distintas. Em Salvador, ocorre anualmente, no dia 2 de fevereiro, a maior festa do país em homenagem à "Rainha do Mar". A celebração envolve milhares de pessoas que, trajadas de branco, saem em procissão até o templo mor, localizado no bairro Rio Vermelho, onde depositam variedades de oferendas, tais como espelhos, bijuterias, comidas, perfumes e toda sorte de agrados. Todavia, na cidade de São Gonçalo, os festejos acontecem no dia 10 de fevereiro.

Outra festa importante dedicada a Iemanjá ocorre durante a passagem de ano no Rio de Janeiro e em todo litoral brasileiro. Milhares de pessoas comparecem e depositam no mar, oferendas para a divindade. A celebração também inclui o tradicional "banho de pipoca" e as sete ondas que os fiéis, ou até mesmo seguidores de outras religiões, pulam como forma de pedir sorte à orixá. Na umbanda, é considerada a divindade do mar.

MITOLOGIA
Iemanjá (no ioruba Yèyé omo ejá; Yemọjá na Nigéria, Yemaya em Cuba, ou ainda Yemanjá ou Yemonjá no Brasil; ver seçãoEtimologia) é o orixá africano do povo Egbá divindade das águas doces e salgadas, seu culto principal situava-se em Abeokuta no rio Ògùn. É também conhecida no Brasil pelos epítetos Iyá Ori, Mãe d'água, Rainha do Mar, Sereia, Inaê, Aiucá, ou Maria princesa do Aioká, sendo reverenciada no Candomblé, Santeria, Umbanda, Xangô do Recife, Batuque, Xambá, Culto Tradicional de Ifá, Regla de Ocha, Omolokô, Terecô, Vodu haitiano e Vodu da Luisiana. É conhecida popularmente como Dona Janaína em especial na Umbanda É identificada no jogo do merindilogun pelos odus ejibe e ossá. É representado no candomblé através do assentamento sagrado denominado igba yemanja. Manifesta-se em iniciados em seus mistérios (eleguns) através de possessão ou transe, ato em que os orixas nas palavras de R. S. Barbara: "(...)vem para dançar e mostrar os seus poderes, representando em gestos suas ações míticas"

No Brasil desenvolveu profunda influência na cultura popular, música e literatura, adquirindo no processo de consolidação da cultura brasileira cada vez mais aspectos sincréticos às influências étnicas do novo mundo, ou que neste se encontraram, se tornando personagem mítico mais ilustrativamente brasileiro do que ancestral africano, conforme pode ser observado através de sua representação por diversos intelectuais, artistas e o folclore dos populares que em sua imagem reuniram as "três raças", que figura na Dona Janaína uma personalidade a parte, sedutora, sereia dos mares nordestinos, com cultos populares simbólicos que muitas vezes não expressam necessariamente uma liturgia real, esta última ainda conservada rigorosamente pelos cultos afro-brasileiros. Nessa visão, segundo Bernardo, “(...)é mãe e esposa. Ela ama os homens do mar e os protege. Mas quando os deseja, ela os mata e torna-os seus esposos no fundo do mar”

LENDA :Os mitos de Iemanjá assim como os de muitos outros orixás sobreviveram e ainda sobrevivem especialmente através da oralidade, na sociedade iorubá o "contador de histórias" tinha um papel muito importante assim como o próprio mito, o ato de narrar

segundo E. Pereira e N. Gomes, "é uma prática social que permite aos indivíduos criarem laços entre si e com o mundo, independente de classe e modelo social.A sociedade iorubá é sustentada pelo mito, ela não é nutrida pela visão histórica, "é pelo mito que se alcança o passado e se explica a origem de tudo, é pelo mito que se interpreta o presente e se prediz o futuro, nesta e na outra vida. Como os iorubás não conheciam a escrita, seu corpo mítico era transmitido oralmente", apresenta R. Prandi.

R. M. Portz, diz que ao se passar a oralidade para a forma escrita "se perde, mas também se ganha", pois embora a história em forma escrita perca a flexibilidade da narrativa natural, permite a permanência de seu registro e divulgação para meios e contextos diferentes do qual é oriunda. Um lado negativo, menciona Portz, é que a partir de quando a história assume a forma escrita estará sujeita a consagrar-se comoverdadeira ou legítima, o que, muitas vezes, impede a valorização de diferentes versões orais por admitir-se que existe apenas uma forma correta de contar os acontecimentos de uma história ou por ignorar-se que existe criatividade dos narradores orais e que a tradição se renova, sendo o passado modificado pelo presente.

Antes de começarmos a abordar a sua mitologia é muito importante ressaltar que Iemanjá, assim como muitos orixás, teve boa parte de sua mitologia construída no processo de diáspora, em novos territórios, principalmente com o sincretismo de novas crenças e encontros com outros orixás. Para S. Poli, "A Yemanjá que conhecemos no Brasil, segundo vemos na obra de Verger, reúne elementos das divindades Yorubás Yemọja, Yeyemowo e Yewa (e outras divindades menores ligadas às águas das várias cidades yorubás que se encontravam através de seus filhos da diáspora, desde a época das senzalas).

Os principais relatos mitológicos de Iemanjá se desenrolam com os orixás primordiais da
criação iorubá do mundo. Filha da união conturbada de Olorun e Olokun (sendo esta última uma divindade feminina em Ifé e masculina no Benim ) e irmã de Olossa e Ajê Salugá. Olokun pelo caráter instável e destrutivo foi atada ao fundo do oceano em seus domínios após uma tentativa de dilúvio frustrada por Olorun, E. L. Nascimento menciona ao referir-se ao temor aos aspectos anti-sociais ou negativos dos Orixás femininos, "Iemanjá, igualmente,representa em seu aspecto perigoso a ira do mar, a esterilidade e a loucura".Não obstante, é muito frequente referências a natureza benéfica de Iemanjá, L. Cabrera assim defende: "Sem deformar essa definição encantadora e irrefutável, podemos imaginar Iemanjá emanada de Olokun, com seu poder e suas riquezas, mas sem as características tremebundas que o associam mais à morte do que à vida, como sua manifestação feminina - Iemanjá é muito maternal - e benéfica"

P. Verger aponta sua primeira união com Orunmilá, o orixá dos segredos (essa união é amplamente celebrada no culto de ifá afro-cubano com diferentes itans, mas atualmente negada pelos seguidores do culto de ifá nigeriano ), relação que pouco durou uma vez que Orumilá a expulsa e a acusa de quebrar o Ewo que proíbe o acesso de mulheres aos Odus e o manuseio dos objetos sagrados de Ifá. L. Cabrera assim registra a sequência desse mesmo itan: "Orunmilá teve de assistir a uma reunião de dezesseis awós, convocada por Olofi.Ela ficou em casa e a todos que iam consultar seu marido, em vez de dizer-lhes que esperassem sua volta, ela fazia passar adiante e adivinhava para eles. Seus vaticínios tiveram tamanho êxito, seus ebós alcançaram tão bom resultado, que o povo começou a dizer que Iemanjá era tão ou mais competente do que Orunmilá, de modo que, quando este voltou, todos lhe pediam quem Iemanjá olhasse para eles. Orunmilá explicava que as mulheres não podem jogar Ifá. Eles iam embora... e não voltavam mais".

Posteriormente Iemanjá foi casada com Olofin Oduduwa criador do mundo e rei de Ifé, com a qual teve dez filhos. Alguns dos nomes enigmáticos de seus filhos parecem corresponder a Orixás, Verger apresenta dois exemplos: "Òsùmàrè ègò béjirìn fonná diwó" (o arco íris que se desloca com a chuva e guarda o fogo nos seus punhos), e "Arìrà gàgàgà tí í béjirìn túmò eji" (o trovão que se desloca com a chuva e revela seus segredos). Iemanjá cansada da vivência na cidade de Ilê Ifé governada pelo marido decide-se fugir para o Oeste, para a "terra do entardecer". Antes de viver no mundo Iemanjá recebera de Olokun, sempre precavida pois "não se sabe jamais o que pode acontecer amanhã", um vasilhame contendo um preparado mágico com a recomendação que se algum caso extremo se sucedesse, Iemanjá o quebrasse no chão. Iemanjá que já havia se instalado no entardecer da Terra foi surpreendida pelo exército de Olofin Oduduwa que estava a sua procura, longe de se deixar capturar, quebrou o vasilhame com o preparado conforme as indicações que recebera. Nasceu no mesmo lugar um rio que levou Iemanjá novamente para o Okun, os oceanos de Olokun onde foi acolhida.

Outro mito sugere que foi casada com Okere, rei de Xaki, cidade localizada ao norte de Abeokuta. Este mito parece complementar suas andanças após a fuga de seu casamento
com Olofin Oduduwa. O mito se inicia com Iemanjá se instalando em Abeokuta que seria a terra do entardecer do mito anterior, e o desfecho muito se assemelha, com a presença do vasilhame com o preparado mágico de Olokun. Iemanjá que "continuava muito bonita", despertou o desejo de Okere que lhe propôs casamento. A união se sucedeu com a condição que Okere em nenhuma situação expusesse o tamanho da imensidão de seus seios ao ridículo. Mas Okere certo dia bêbado retorna para casa e tropeça em Iemanjá que o recrimina, e este não tendo controle das faculdades ou emoções, grita ridicularizando-lhe os seios. Iemanjá foge em disparada ofendida com o feito de Okere, que lhe persegue. Em sua fuga, Iemanjá tropeça quebrando o vasilhame que lhe foi dado e dele nasce o rio que lhe ajudará a chegar até o mar. Okere não querendo permitir a fuga da mulher se transforma numa colina que lhe barra o caminho para qualquer direção. Iemanjá uma vez com sua rota até o oceano bloqueada, clama pelo mais poderoso de seus filhos, Xangô. Assim P. Verger relata o seu desfecho: "Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder.(...) E declarou que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar. Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras de chuva. Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia. Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia. Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio. Ouviu-se então: Kakara rá rá rá ... Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere. Ela abriu-se em duas e, suichchchch ... Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokun. E aí ficou e recusa-se, desde então, a voltar em Terra".

- A sequência de mitos apresentada denota a passagem de Iemanjá de sua origem em
Olokun à sua transformação em um rio, justificando o seu culto em Abeokuta, e alude a uma visão que só posteriormente tomaria maior forma, relacionando-a à mãe prolífica, inclusive de filhos orixás, conforme as duas menções a Xangô.


Em África, Iemanjá é senhora de traços negros com formas bem evidenciadas e seios muito volumosos, por vezes representada grávida...No Brasil nos âmbitos populares ocorreu uma aproximação entre a figura africana e a sereia europeia branca, com seus atributos de sedução e cantos enfeitiçadores, já confundida com a Iara, a Mãe d'Água. Até o séc. XIX encontramos representações de Iemanjá na Bahia como uma senhora, expondo seus grandes seios, não aludindo em nada a figura mitológica da
sereia, no entanto neste mesmo século já nos é possível reconhecer representações que, fundem os atributos do orixá com a figura europeia...

Esse sincretismo de ideias e artístico que observa-se como por exemplo, na escultura de Carybé, também é bem visível nas representações de qualquer ponto de Salvador, em oposição com a representação distinta da Umbanda, especialmente nos estados a sudeste do Brasil, que nos apresenta uma mulher de pele branca, com longos cabelos negros e lisos e roupa azul...

Ao estudar as duas deusas, mostrou que são duas faces do mesmo arquétipo. No entanto, provavelmente para não parecer racista, não confronta Maria diretamente com Iemanjá, mas interpõe uma terceira deusa, Ísis, a grande mãe do Egito antigo, distante da realidade aqui
tratada e, portanto, figura neutra para o debate atual".

A gradação da "cor da pele" dos orixás "reflete a miscigenação racial da população que os cultua e o movimento de 'abrasileiramento' da religião. Outra interpretação da concepção do orixá, mais radical quanto à desvinculação entre a origem racial, de cor de pele e os deuses, é aquela que pensa os orixás como forças da natureza", apontam M. Moura e J. B. Santos, e acrescentam, "Nesta concepção Iemanjá é o mar, Oxum os rios, Iansã os ventos(...)", aqui fazem alusão a uma nova concepção brasileira do orixá como divindade panteísta e não de culto ancestral, o que justificaria a perda de seus traços étnicos.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.
Fonte: Deusa Iemanjá/https://www.significados.com.br/

domingo, 15 de janeiro de 2017

- Patrocínio é o Tigre da Abolição!

QUANDO TUDO ACONTECEU...
1853: Em 9 de Outubro José Carlos do Patrocínio nasce em Campos dos Goitacazes (Província do Rio de Janeiro), filho natural do padre João Carlos Monteiro e de Justina, escrava africana. - 1868: Patrocínio começa a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro. - 1871: É aprovada a Lei do Ventre Livre. - 1874: Na Faculdade de Medicina, Patrocínio conclui o curso de Farmácia. - 1875: Com Demerval Ferreira publica o primeiro número do quinzenário satírico OS FERRÕES. - 1877: Entra na GAZETA DE NOTÍCIAS, onde se encarrega de A Semana Parlamentar. - 1879: Casa com Maria Henriqueta Sena, a Bibi. Inicia a campanha pela Abolição da escravatura. - 1881: Ingressa na GAZETA DA TARDE, acabando por se tornar proprietário do periódico. - 1882: A convite de Paula Nei desloca-se ao Ceará em campanha pró Abolição; dois anos mais tarde o Ceará será a primeira Província brasileira a dar a emancipação aos escravos. - 1883: Patrocínio redige o Manifesto da Confederação Abolicionista. - 1884: Publica o romance Pedro Espanhol. - 1885: É aprovada a Lei dos Sexagenários. José do Patrocínio visita Campos, onde é saudado como um triunfador. No Rio de Janeiro o funeral de “tia” Justina, mãe de José do Patrocínio, transforma-se num grandioso comício de repúdio à escravidão. - 1886: É eleito vereador da Câmara do Rio. - 1887: Deixa a GAZETA DA TARDE, funda e passa a dirigir A CIDADE DO RIO. Publica o romance Mota Coqueiro ou A pena de morte. - 1888: A 13 de Maio a Princesa Isabel assina a Lei Áurea que extingue a escravidão no Brasil; José do Patrocínio beija as mãos da Princesa. - 1889: Patrocínio publica o romance Os Retirantes. Incentiva e coordena a violenta acção da Guarda Negra do isabelismo. A 15 de Novembro a República é implantada no Brasil. - 1892: José do Patrocínio traz de França o primeiro automóvel que irá circular no Brasil. Por ter atacado, no seu jornal, o Marechal Floriano Peixoto, ditador de plantão, Patrocínio é desterrado para a Amazónia. - 1893: Proibida a publicação do periódico A CIDADE DO RIO, Patrocínio fica na miséria.- 1905: Numa homenagem a Santos Dumont, ao discursar, José do Patrocínio sofre uma hemoptise; falece pouco depois, a 30 de Janeiro.


A MÃE É ESCRAVA, O PAI É PADRE
Campos dos Goitacazes, perto do Rio de Janeiro, a Capital do Império brasileiro. Dona Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, senhora de terras e de escravos, é a proprietária de
Justina, uma pretinha caçada em Mina, na costa de África. Dona Emerenciana empresta Justina ao Cónego João Carlos Monteiro. E tão carinhosamente o Cónego trata Justina que,aos 15 anos, ela dá à luz um mulatinho; o qual, na pia baptismal, recebe o nome de José Carlos do Patrocínio. Corre o ano de 1853.
O Cónego não reconhece a paternidade. Aliás, sem provocar escândalo, não poderia reconhecê-la. É axioma por todos aceite, embora nele ninguém acredite, que um sacerdote é sempre um homem casto...

Mas se, por um lado, paternidade não reconhece, por outro o Cónego não empurra o filho para a senzala. Benza-o Deus, que ainda lhe sobram uns restos de ternura...

Zezinho passa a infância na fazenda paterna da Lagoa de Cima. Escravo não é, porém vai assistindo à penosa vida dos escravos e aos castigos que lhes são impostos. Sofre por eles,

em surdina pragueja muito, revolta a germinar...

NO RIO DE JANEIRO
Em Campos, Zezinho aprende as primeiras letras, instrução primária. Aos 14 anos pede e o pai autoriza que vá para o Rio de Janeiro.
Na Capital, em 1868 arranja um emprego de servente de pedreiro na Santa Casa da Misericórdia. Transitará depois para um emprego na Casa de Saúde do Dr. Batista Santos. Seduzido pelo combate contra a doença, começa a estudar Farmácia, na Faculdade de Medicina. Ajudas poucas, do pai nenhuma; basicamente é ele quem paga o próprio estudo.

Terminado o curso em 1874, logo surge um tormentoso problema financeiro: dissolvida a “república” onde vivia com vários condiscípulos, José do Patrocínio terá de alugar moradia e dinheiro para isso não tem. Muito menos para se estabelecer como farmacêutico. O seu amigo e colega Pacheco Vilanova deita-lhe a mão: convida-o a morar no bairro de São Cristóvão, na casa de sua mãe que estava casada em segundas núpcias com o capitão Emiliano Rosa Sena, homem rico, dono de terras e imóveis. Para deixar Patrocínio à vontade, o capitão propõe-lhe hospedagem gratuita contra o trabalho de dar aulas particulares a seus filhos. Patrocínio respira fundo, aceita a proposta. E passa também a frequentar o “Clube Republicano” que funciona na casa do capitão, e do qual fazem parte homens que irão deixar marcas no tempo, tais como Lopes Trovão e Quintino Bocaiúva.

A MINHA FILHA VAI CASAR COM UM MULATO?
Entre uma lição e outra, José do Patrocínio apaixona-se por Maria Henriqueta, a Bibi, uma das filhas do capitão Sena. E é correspondido. Apaixonadamente, como ele quer e gosta, não sabe outra forma de estar na vida. Quem se opõe ao romance é o capitão Sena: “A minha filha vai casar com um mulato? Nem pense nisso!...” Contudo a impetuosa Bibi não desiste do matrimónio e José entretanto arranjara um outro emprego que lhes garantirá autonomia financeira. Mais não é preciso para casarem. E casam, em 1879 os apaixonados casam, escândalo, diatribes...

PATROCÍNIO E O JORNALISMO
Um outro emprego? De 1 de Junho a 15 de Outubro de 1875, de parceria com Demerval Ferreira, Patrocínio escrevera e editara OS FERRÕES, quinzenário satírico. Em 1877 Ferreira de Araújo, proprietário do jornal abolicionista GAZETA DE NOTÍCIAS, admite José do Patrocínio como redactor. A seu cargo fica a “Semana Parlamentar”, que assina com o pseudónimo Prudhome. Em 1879 (o ano do casamento com Bibi...), na mesma gazeta inicia a sua campanha pela Abolição. Incêndio, vulcão verbal que reúne à sua volta jornalistas e

tribunos, entre os quais Ferreira de Meneses (proprietário da GAZETA DA TARDE), Joaquim Nabuco, Teodoro Sampaio, Paula Nei e muitos, muitos outros. Todos da ASSOCIAÇÃO CENTRAL EMANCIPADORA, à qual Patrocínio adere e onde passa a trabalhar graciosamente, voluntariado.

Ferreira de Meneses morre em 1881 e José do Patrocínio assume a direcção da GAZETA DA TARDE. Melhor dizendo: torna-se o novo proprietário do jornal. Como, se dinheiro não tem? Mas dinheiro não falta ao sogro, com o qual se reconciliara recentemente. É quanto basta...

Escreve artigos vibrantes; mas, a partir da Redacção, José do Patrocínio também trata de coordenar a campanha prática para a libertação dos negros, preparando e auxiliando a fuga de escravos e angariando fundos para as alforrias. Promove espectáculos ao vivo: comícios em teatros, manifestações em praça pública.

Ainda em 81 Patrocínio funda a CONFEDERAÇÃO ABOLICIONISTA e redige o respectivo manifesto que André Rebouças e Aristides Lobo também assinam.

Em 82, a convite de Paula Nei, Patrocínio visita o Ceará. É festejado como o grande líder dos oprimidos. Em 84 aquela será a primeira Província brasileira a conceder a emancipação completa aos escravos.
Em 87 Patrocínio desiste da GAZETA DA TARDE. Outra vez com o dinheiro do sogro funda e passa a dirigir A CIDADE DO RIO. Para o novo periódico conta com o apoio dos mais prestigiados jornalistas e oradores pró Abolição.

Patrocínio é também seduzido pela criação romanesca. Em 83 publicou o romance Pedro Espanhol. Em 87 o romance Mota Coqueiro ou A Pena de Morte. E em 89 publicará o romance Os Retirantes, inspirado na inclemência da seca sobre cearenses e outros nordestinos.

A MORTE DE JUSTINA
Em 1885 José do Patrocínio visita Campos dos Goitacazes. Embora prossiga o combate pela Abolição, na sua terra natal o povo já o festeja como grande vencedor.

Patrocínio regressa ao Rio e leva consigo Justina, sua mãe, velha, exausta, adoentada. Pelo menos impede que, para sobreviver, ela continue a vender fruta pelas esquinas.

Em finais do mesmo ano, no Rio, morre a velha Justina do Espírito Santo. Funeral imponente, comentado em toda a Capital. Seguram as alças do caixão o Ministro Rodolfo Dantas, o jurista Rui Barbosa e dois futuros presidentes da República que será implantada um dia: Campos Sales e Prudente de Morais. Funeral que é um público repúdio à escravidão e homenagem ao grande abolicionista José do Patrocínio.

VERBO, INCÊNDIO, VULCÃO...
Em França, Proudhon, o teórico do anarquismo, afirmara:
- A propriedade é um roubo.
No Brasil, José do Patrocínio avança um passo:
- Se toda a propriedade é roubo, a propriedade escrava é um roubo duplo, contrária aos princípios humanos que qualquer ordem jurídica deve servir.

Condensa o seu pensamento no grito de guerra Escravidão é Roubo. Máxima que não se
cansa de atirar à cara dos escravistas, infiltrados que eles andam pelos lugares mais inesperados.
Quem pensa encontrar apenas escravistas entre os conservadores, engana-se, pois entre eles surge um desassombrado abolicionista que é o Visconde de Rio Branco. Quem pensa encontrar apenas abolicionistas entre os liberais, também se engana, pois entre eles surgem empedernidos escravistas como Martinho Campos e racistas como Sílvio Romero. Algo de semelhante ocorre com monárquicos e republicanos. Alguém diz que a abolição é uma batata quente a saltar de mão em mão, e inesperadas são as mãos que a recebem e as mãos que a repudiam... Contudo, nas suas lutas, os abolicionistas foram conseguindo algumas vitórias. Em 1871 foi aprovada a Lei do Ventre Livre (iniciativa do Visconde de Rio Branco), que reconhece como livres as crianças nascidas de mães escravas. E em 1885 foi aprovada a Lei dos Sexagenários que concede a liberdade aos escravos com idade igual ou superior a 65 anos. Mas os abolicionistas não se contentam com migalhas, exigem a libertação total e imediata de todos os escravos, sem qualquer indemnização aos escravocratas.

Nada consegue deter a enxurrada verbal de Patrocínio; nomeadamente contra a ilegal escravatura de africanos recém-chegados ao Brasil. Nem sequer a figura do seu pai o sustém (talvez até o atice mais):

- Agora mesmo (...) quis Deus que eu fosse vítima de uma dor profunda. Fui rever uma lista de africanos livres, confiados à guarda de pessoas da maior excepção; africanos que, tendo sido aprisionados, tinham pelo Estado garantida a sua liberdade. Não é a primeira vez que folheio este tristíssimo documento, em que estão os nomes de pessoas de grande vulto em nossa história. Mas um nome me havia escapado. Era o nome de um sacerdote de Jesus Cristo, de um cónego honorário e pregador da Capela Imperial, condecorado com as ordens da Rosa e do Cristo, vigário da vara de Campos, examinador sinodal do bispado do Rio de Janeiro e, na época, deputado provincial por esta província, o bacharel João Carlos Monteiro. Este é o nome do meu pai! Pois bem, eu declaro (...) que estes africanos foram reduzidos à escravidão. (...) Deles proveio a escravatura de meu pai, que subiu a 92 pessoas. Estes desgraçados, por morte do senhor, foram vendidos para pagar as dívidas do homem que os havia escravizado!

Patrocínio pretende ocupar uma tribuna de prestígio para dilatar a agitação dos seus discursos. Consegue-a: em 1886 é eleito vereador da Câmara do Rio, votação maciça no seu nome.
Comentário do seu contemporâneo Américo Palha:
- Patrocínio pode olhar para testemunhar e defender o sofrimento da raça crucificada. Só ele pode chamar, gritar, ameaçar. O sangue desta raça, derramado nas senzalas, exige solidariedade humana. Exige repressão, exige justiça. Patrocínio fala pelos mártires de sua cor.
Diz Carolina Nabuco:
- Ele não faz discursos, interpreta-os com uma força extraordinária, mas têm ardor comunicativo e espontaneidade vibrante, o que ameniza a dramatização exagerada...
Conclui Oswaldo Orico:

A LEI ÁUREA
Nos princípios de 1888 o Imperador D. Pedro II viaja até à Europa; a Princesa Isabel, sua filha, assume a Regência.No dia 13 a oposição dos escravistas é vencida e a Lei Áurea (assim lhe chamam) é aprovada. Grande agitação na Capital. A Princesa vem de Petrópolis para assinar a Lei. No Paço, chuva de rosas que ela vai pisando lentamente. Começa a ser lido o texto:
- A princesa imperial regente em nome de Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súbditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.
Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.

A GUARDA NEGRA
A José do Patrocínio diz-lhe um amigo, no dia seguinte, 14 de Maio:

Só a República poderá fazer as reformas sociais e económicas que o Brasil precisa e os monárquicos rejeitam e entravam.
- Os republicanos não mexeram uma palha pela Abolição e não assinaram a Lei Áurea. Quem mexeu e assinou foi a Princesa Isabel. Sou fiel à Redentora, ela pode contar comigo. Para sempre!

O isabelismo passa a avassalar José do Patrocínio e também milhares de africanos recém-libertos. Vêem na Princesa a única e abnegada senhora que os redimira da escravidão. Arregimentados e orientados por José do Patrocínio, em várias cidades do Brasil organizam-se em Guarda Negra que dissolve, pela violência, comícios e manifestações de republicanos. Pensam mostrar assim eterna gratidão à Princesa...

DECADÊNCIA
A CIDADE DO RIO é convertida em porta-voz da monarquia e José do Patrocínio é apontado como organizador da GUARDA NEGRA. Depois do 15 de Novembro de 1889, seduzido
pelas novas propostas de reestruturação da sociedade brasileira, outra vez tenta aderir aos ideais republicanos mas é enxotado pelos adeptos do regime recém-implantado. Ao mesmo tempo os monárquicos berram que ele é um troca-tintas.


Em 92 Patrocínio vai a França e traz o primeiro automóvel que irá circular no Brasil. Um automóvel a vapor, barulho a espantar os transeuntes...

Em 93 Patrocínio regressa discretamente ao Rio. O seu jornal tinha sido fechado pelo “Marechal de Ferro”. A miséria bate à porta de Patrocínio e ele muda-se para um barracão no subúrbio.

Desiludido com a política decide-se por uma nova carreira: a de inventor. Continua a querer subir alto, mas desta vez fisicamente, e dedica-se a tentar construir um dirigível de 45 metros de comprimento e 1200 quilos de peso, o “Santa Cruz”, que jamais levantará voo.

Fome e, por arrasto, a tuberculose. Nos primeiros dias de 1905, no Teatro Lírico, numa sessão de homenagem a Santos Dumont, ao iniciar o seu discurso de saudação ao aviador, Patrocínio sofre uma hemoptise e cai para o lado. Morrerá dias depois, a 30 de Janeiro.

A 13 de Maio de 1898, já depois de assinada a Lei Áurea, quando José do Patrocínio era delirantemente aclamado pela multidão, disse-lhe o seu amigo José Marques:

- Que belo dia para morreres, Patrocínio!-
 Patrocínio é o Tigre da Abolição!
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!
fonte:www.acordacultura.org.br/www.vidaslusofonas.pt/www.acordacultura.org.br/

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Escravidão no Brasil e suas Consequências...

População marcada no marcado...
Os anos à Lei Áurea não foram nada fáceis para os ex-escravos. Libertos, sem rumo e sem teto, os negros espalhados pelas cidades e fazendas brasileiras não receberam um tostão pelos 350 anos de trabalho forçado.

Vestida em rendas valencianas e sedas peroladas, a princesa regente procurava passagem no meio da multidão de 10 mil pessoas, na tentativa de chegar ao balcão do Paço, no Rio de Janeiro. Sob uma chuva de flores atiradas por senhoras, conseguiu subir à sacada. Eram 15 para as 3 da tarde quando entrou na sala do trono e assinou a lei 3 353 com uma pena de ouro. Do lado de fora, ao saber que a princesa Isabel havia sancionado a Lei Áurea e posto fim à escravidão, o povo explodiu em gritos, vivas, salves. Festa parecida com a que tomou a ilha de Itaparica, na Bahia: por três dias e três noites, tambores e batuques ecoaram pelas copas das mangueiras. Mas os relatos de uma velha escrava da ilha contam que, acabada a comemoração, o senhor do engenho reuniu todos os escravos e os mandou embora, um a um. Os negros partiram dali sem terra, sem comida, sem dinheiro, sem sapatos, vestidos em roupas velhas de algodão grosso. Naquela dispersão miserável começava a liberdade.

De acordo com os termos da Abolição (de 13 de maio de 1888), a lei oficializou o princípio jurídico da igualdade. "Muitos foram os que saíram dos engenhos e fazendas para buscarem a liberdade na pesca e na mariscagem, outros para seguirem Antônio Conselheiro. Houve os que se embrenharam nas matas para constituírem os novos quilombos. Para todos esses rurais, o preço da liberdade era a miséria. Para a grande maioria, no entanto, a
impossibilidade de acesso à terra tolhia os sonhos de liberdade", escreveu o historiador Ubiratan Castro de Araujo, no artigo "Reparação Moral, Responsabilidade Pública e Direito à Igualdade do Cidadão Negro no Brasil".

O regime escravocrata já estava enfraquecido desde o início do século 19, e a lei significou, na prática, o fim do sistema mercantil que vigorou no país desde a chegada do primeiro navio negreiro, em 1531. Dos cerca de 10 milhões de negros capturados em diversas regiões da África para serem vendidos como escravos destinados às Américas, aproximadamente 4 milhões desembarcaram na costa brasileira. Nagôs, jejes, angolas e benguelas foram algumas das principais etnias obrigadas a viver por aqui. Representam muito do que somos hoje: uma nação que conviveu com três séculos e meio de escravidão e apenas 126 anos de trabalho livre.

À venda.
A escravidão não é invenção dos portugueses e já existia na África. Mas o tráfico mercantil, liderado por Portugal e depois pelo Brasil, espalhou a prática em escala sem precedentes no oceano Atlântico. "Perversidade intrínseca: escravos eram adquiridos pelos traficantes em troca de mercadorias produzidas pela força de trabalho escrava", escreveu o historiador Jaime Pinsky em A Escravidão no Brasil. Eram embarcados entre 200 e 600 negros na África, a cada viagem. Vinham amarrados por correntes e separados por sexo. Sofriam, além do desconforto físico, falta de água e doenças. No século 19, dos que vinham de Angola, 10% morriam na travessia, que demorava de 35 a 50 dias.

Assim que chegavam ao Brasil, eles eram postos em quarentena, a fim de evitar mais perdas por doenças. E, para causarem boa impressão, submetidos à engorda e besuntados em óleo de palma, que escondia feridas e dava vigor à pele. Faziam exercícios para combater a atrofia muscular e a artrose. Depois, seguiam para os mercados de negros da cidade, como o Valongo, na Gamboa, região central do Rio de Janeiro. De cabelos raspados, velhos, jovens, mulheres e crianças eram avaliados pela clientela, que apalpava dentes, membros e troncos. Um viajante alemão, em viagem à Bahia no século 19, descreveu: "Assim, pelados, sentados no chão, observando, curiosos, os transeuntes, pouco se diferenciam, aparentemente, dos macacos".

A existência do mercado chegou a se tornar problema de saúde pública, porque os mercadores atiravam cadáveres de africanos em um terreno próximo. Um juiz do distrito, em 1815, ordenou aterrar a área e proibiu a prática: "Mande notificar a todos os negociantes que recolherem pretos no Valongo para que nunca mais se atrevam a lançar para ali cadáveres". Hoje, resta quase nada desses mercados. "A urbanização, apoiada pela consciência culposa, destruiu esses vestígios", afirma a historiadora Katia de Queirós Mattoso no livro Ser Escravo no Brasil.

O mesmo ofício que proibiu covas rasas no pântano do Valongo impôs, como penalidade, multa de 30 mil-réis aos armazéns responsáveis, identificados pelas marcas feitas a ferro quente na pele dos escravos. Segundo documentos do Arquivo Nacional, os negros ganhavam, ainda na África, as iniciais do traficante; e, ao chegarem aqui, as letras de seus proprietários. A cada vez que fossem vendidos, seriam novamente marcados. Dom Manuel, rei de Portugal, foi um dos primeiros a adotar essa prática dolorosa, no início do século 16, com os escravos da coroa. Também era comum gravar uma cruz no peito dos que eram batizados. E, em 1741, o governador da capitania do Rio, Gomes Freire de Andrade, determinou que os negros fugitivos, uma vez pegos, fossem marcados com um F e obrigados a usar um cordão de estacas. De modo que, se escapassem uma segunda vez, teriam como castigo adicional uma orelha cortada. As marcas e mutilações só seriam extintas com o Código Criminal do Império, em 1842.
Imensa minoria
Esse povo marcado ia tocando a vida em frente e se misturando à cultura brasileira. "A alforria e a miscigenação geraram uma população mestiça livre que gradualmente se tornou, já na época colonial, quase tão numerosa quanto a escrava, tendo limitações, entretanto, no exercício do sacerdócio, na tropa de primeira linha ou no preenchimento de cargos públicos", escrevem os pesquisadores Ida Lewkowicz, Horacio Gutiérrez e Manolo Florentino no livro Trabalho Compulsório e Trabalho Livre na História do Brasil. Segundo eles, em 1872, pardos e mulatos livres já eram maioria, ou 42% da população: 4,2 milhões, em comparação a 1,5 milhão de escravos. Ou seja, os negros estavam em vastas áreas rurais e ocupavam as ruas das principais cidades da colônia.

No cenário posterior à Abolição, surgiram tentativas de estabelecer novas relações de trabalho para esse grande contingente. "O fim da escravidão era uma possibilidade de recomeço", escreveu Ubiratan Castro de Araujo. Ele cita o caso raro do advogado Leovigildo Filgueiras, que chegou a criar uma entidade para intermediar contratos entre ex-escravos e novos patrões, a Sociedade Treze de Maio. Mas em vão: "Nem mesmo essa tentativa de precoce terciarização [criação de um setor terciário, de serviços] funcionou. Continuaram os favores, as obrigações e as clientelas". Outra experiência foi a Guarda Negra - segundo o historiador, um movimento político de apoio à princesa Isabel e ao Terceiro Reinado, que pretendia arregimentar simpatia popular e abrir frentes de trabalho onde antes só havia brancos. "Assistimos então pelos jornais baianos ao debate entre negros da Guarda e negros republicanos, que identificavam a monarquia com a escravidão. Uma vez vitoriosa a República em 1889, a Guarda Negra foi suprimida e os seus líderes mais ativos banidos para a Amazônia, como foi o caso do baiano Manuel Benício dos Santos, conhecido como Macaco Beleza."

A sociedade branca não queria perder seus privilégios. E tratou de reforçar todos os comportamentos que distanciassem os negros na hierarquia social e na divisão do trabalho. Salvador, a terceira cidade com o maior número de negros no Brasil no século 19 (a primeira era o Rio), exemplificou a recusa: "Após 1888, a sociedade baiana torna-se um corpo assentado, fechado. Suas camadas superiores assumem uma consciência, aguda como nunca antes, de tudo do que pode separar o homem branco do preto ou do mestiço. A cor da pele, antes ‘esquecida’, torna-se, entre ricos e pobres, uma fronteira nítida. O branco da terra que não teve sucesso econômico passa a ser um negro. (...) Nas relações humanas

fortalecem-se todas as regras da humildade, da obediência e da fidelidade dos séculos de escravidão", afirma Kátia Mattoso. No caso dos negros dispensados em Itaparica, por exemplo, a pesquisadora diz que "muitos atravessam a baía, refugiam-se na grande cidade, acrescentam-se a uma população marginal que tem todas as dificuldades do mundo para arranjar trabalho".

Cidade negra.

O Brasil foi o país de maior e mais longa escravidão urbana. Nas cidades, o escravo tinha mais independência do que no campo. "Ele circulava nas ruas, estabelecia vínculos com os homens livres humildes", escreveu Kátia. Havia mais chances de encontrar membros da mesma etnia, em festas e confrarias religiosas realizadas em praça pública, e a presença do senhor era menos opressiva. Os escravos, mestiços, forros, libertos circulavam fornecendo serviços, e podiam ser alugados. Os acordos com os senhores também eram flexíveis: havia escravos que recebiam somente comida e roupa, outros, "escravos de ganho", repassavam ao senhor uma porcentagem dos pagamentos feitos pelos seus clientes.

Eles vendiam doces, refrescos, frutas, aves e ovos, roupas, chaleiras, velas, estatuetas de santos, poções de amor. Ou atuavam nos demais ofícios, como barbeiros, ferreiros, quitandeiros, parteiras, doceiras, mascates, lixeiros, carregadores. Transportavam tudo nos ombros e nos braços, até pessoas - brancos brasileiros e estrangeiros acomodados em


cadeirinhas almofadadas. O dinheiro acumulado na prestação desses serviços podia um dia comprar a carta de alforria. Sabendo disso, os senhores renovavam as exigências na negociação. Uma escrava costureira, libertada em 1728, aceitou continuar servindo de graça a sua senhora. E o mulato Isidoro Baptista teve a liberdade prometida para "uma hora antes da morte" de seu senhor. Na década de 1880, sentindo o fim da escravidão, muitos senhores emitiram dezenas de alforrias de uma só vez, sob a condição de que os escravos trabalhassem mais sete anos.

Nas cidades, ficava difícil, mas possível, comprar a alforria. Nas fazendas de café ou nos canaviais, contudo, era mais raro. Os engenhos de açúcar impunham uma rotina brutal. Durante a safra, eles funcionavam por até 20 horas por dia, com 80 a 100 pessoas na lida, a maioria homens africanos. Entre plantar, limpar, colher e transportar, as funções eram distribuídas de modo que cada escravo cumprisse uma parte, mas só o engenho fizesse açúcar. Isso mesmo, no Brasil Colônia já havia uma espécie de "fordismo" tropical. Surgem cargos como mestre-de-açúcar e caldeireiro, que podiam ganhar recompensas e até salários. Escravos mulatos ou nascidos no Brasil, conhecidos como crioulos, eram favorecidos na disputa desses postos, em relação aos africanos, vindos, principalmente, da Costa da Mina, noroeste do continente, e região de Angola. "A mão de obra escrava foi a força motriz dos principais ciclos econômicos do país", afirma Gustavo Acioli, doutor em História Econômica pela USP. Em 1700, um negro adulto (de 14 a 45 anos) custava cerca de 100 mil-réis. Mas o valor variou conforme a demanda nos vários setores, em especial açúcar, algodão e café.

Segundo afirma Stuart Schwartz, historiador da Universidade de Yale, no livro Escravos, Roceiros e Rebeldes, "o que os agricultores ofereciam como incentivos, para alcançar seus objetivos, podia ser interpretado pelos escravos como uma oportunidade que talvez lhes

melhorasse a vida". Os escravos do açúcar tinham possibilidades mínimas de conquistar algum benefício, mas se agarravam a essas chances, submetidos à péssima condição que limitava sua expectativa de vida, no fim do século 18, a 23 anos, em média. As punições incluíam o chicote, as máscaras de flandres, o tronco, entre outras, mas eram raras, porque afetavam o rendimento do escravo e, de quebra, o do engenho.

A situação dos escravos não era a mesma em todo o país. No século 18, os homens trazidos para procurar fortunas de ouro e diamantes no leito dos rios de Minas Gerais levavam uma vida bem diferente daquela dos engenhos de cana. Uma mina empregava no máximo 30 escravos. Curvado, com os pés na água, o negro procurava as sonhadas pedras por horas a fio, parando somente para comer e fumar. Mas, se vivia mais isolado, o mineiro tinha mais mobilidade. "A mineração, mais que outros setores econômicos, propiciou aos escravos maior acesso à alforria e alguma mobilidade social graças à possibilidade de reunir um pecúlio", escrevem os autores de Trabalho Compulsório e Trabalho Livre na História do Brasil. Uma única pepita podia comprar a liberdade. Isso estimulou outra característica peculiar da escravidão brasileira - a existência dos senhores negros, libertos que conseguiam acumular patrimônio e ter seus próprios escravos. Embora fosse a minoria da minoria (no Rio ou em Salvador, as alforrias não passavam de 2% da população), isso acontecia, especialmente nos centros urbanos e nas minas.

Em 1888, o Brasil se tornou o último país do Ocidente a abolir a escravidão. E os ex-escravos tiveram de se virar para serem absorvidos pela sociedade e sobreviverem. Dependendo da área em que atuavam - nas minas, na lavoura, nos ofícios urbanos -, foram integrados de forma diferente ao mercado. Alguns trabalhadores da cidade tiveram a grande vantagem de dominar um ofício e, em alguns casos, contar com uma clientela. No campo ou na capital surgiram os contratos que repetiam o clientelismo, o compadrio, quando não a própria violência física. "O caso exemplar é das escravas domésticas, que mantiveram suas relações com as patroas", afirma a historiadora Ynaê Santos, pesquisadora da escravidão urbana.

Finalmente, muito dessa história se perdeu. Então ministro da Fazenda, Rui Barbosa mandou queimar, em 14 de dezembro de 1890, os registros de posse e movimentação patrimonial envolvendo todos os escravos, o que foi feito ao longo de sua gestão e de seu sucessor. A razão alegada para o gesto teria sido apagar "a mancha" da escravidão do passado nacional. Mas especialistas afirmam que Rui Barbosa quis, com a medida, inviabilizar o cálculo de eventuais indenizações que vinham sendo pleiteadas pelos antigos proprietários de escravos. Apenas 11 dias depois da Abolição, um projeto de lei foi encaminhado à Câmara, propondo ressarcir senhores dos prejuízos gerados com a medida. Mas, mesmo sem os papéis, a escravidão deixou marcas duradouras e traços para sempre visíveis na História do país.

Rebeldes de Santana: direitos por escrito
Revoltosos de Ilhéus redigiram uma pauta com 19 exigências para melhorar suas condições de trabalho

"Os atuais feitores não os queremos, faça eleição de outros com a nossa aprovação". Essa era uma das 19 reivindicações apresentadas pelos escravos ao dono do engenho de Santana, em Ilhéus, na Bahia, onde trabalhavam cerca de 300 homens. O levante aconteceu em 1789, quando seus integrantes mataram o supervisor e fugiram. Encurralados, propuseram um inusitado tratado de paz = escrito. Pesquisadores acreditam que o grau de alfabetização dos escravos dificilmente ultrapassou 1%. Mesmo assim, esse grupo conseguiu redigir seus objetivos. Entre eles, a redução da jornada de trabalho (menos 30% da colheita diária), folga nas sextas e sábados, mais tempo para dedicar aos seus lotes de terra e ao cultivo de suas hortas, transporte para levar seus produtos ao mercado, tratamento especial para as mulheres (menos tempo na lida) e até o controle do engenho, além do direito de recusar certas tarefas tidas como sujas, que deveriam ser delegadas aos "pretos minas [modo generalizado de chamar os africanos, para diferenciá-los dos nascidos no Brasil]". No pedido final, a esperança: "Poderemos brincar, folgar e cantar em todos os tempos que quisermos, sem que nos impeça e nem seja preciso licença". Os negros de Santana não
pediam explicitamente o fim da escravidão, nem mencionavam os castigos corporais, mas defendiam melhores condições de trabalho e disponibilidade para os esforços destinados à compra da liberdade. Não adiantou. O proprietário fingiu aceitar o tratado, prendeu e vendeu a maior parte de seus autores, liderados pelo escravo Gregório Luís. Embora fosse considerado um bem, como um animal, o escravo era julgado como homem quando cometia um crime. A maioria das rebeliões escravas ocorreu nas cidades - notadamente na Bahia.


Terra de branco:
A casa-grande era fortaleza, banco, escola e hospedaria

FÉ CEGA:
Na sala as orações eram feitas em latim. Os africanos reinterpretavam: Resurrexit sicut dixit ("ressuscitou, como havia dito") virou, na prática, "reco-reco Chico disse".

INOCÊNCIA PERDIDA:
Crianças brancas e negras andavam nuas e brincavam juntas até os 5 ou 6 anos. Tinham os mesmos jogos, baseados nos mesmos personagens fantásticos do folclore africano. Mas, aos 7 anos, a criança negra enfrentava sua condição e precisava começar a trabalhar.

ESCOLA PROIBIDA:
Não havia escola para escravos e forros, mas, algumas poucas vezes, aqueles que trabalhavam na casa grande, bilíngues na prática, iam à sala de aula.

A COXINHA:
A cozinheira era muito valorizada na casa-grande. Conquistou o gosto dos europeus e brasileiros para os pratos de origem africana como vatapá e caruru, comuns na mesa patriarcal do Nordeste. A cozinha ficava num anexo da casa, separada dos cômodos principais por depósitos ou áreas internas.

Salários e indenizações:
Ex-escravos receberam pagamento depois da abolição nas Antilhas
Se liga:    Nas colônias britânicas, a abolição teve tratamento jurídico e social bem diferente do Brasil. Ficou estabelecido nas Antilhas que os trabalhadores ficariam com seus antigos senhores em troca de um soldo, durante quatro anos. E os proprietários das plantações foram indenizados. "O saldo da abolição nas Antilhas britânicas foi inegavelmente positivo para os descendentes de africanos que foram libertados, por causa da atitude dos próprios ex-escravos. Sempre que possível, eles se recusaram a trabalhar sob condições semelhantes às vigentes durante a escravidão, lutando para se converterem em camponeses", afirma o historiador Rafael Marquese, da Universidade de São Paulo. Se a Inglaterra agiu assim por

consciência social ou interesse econômico é uma questão polêmica. Por um lado, é sabido que a Revolução Industrial, que vigorava desde o século 18, pedia consumidores para a produção em larga escala. Por outro lado, já havia na Europa a propagação de um sentimento abolicionista. Segundo Marquese, "o que estava na cabeça dos antiescravistas que militavam na Grã-Bretanha não era simplesmente a ampliação do mercado consumidor no mundo colonial, mas uma transformação mais ampla de ex-escravos em agentes econômicos disciplinados conforme a lógica do mercado, segundo os moldes prescritos pelo pensamento liberal". Sob essa perspectiva, Adam Smith já advertia, em A Riqueza das Nações, que a escravidão era contraproducente, pois homens livres trabalhavam mais e melhor.

A senzala- Um único espaço se destinava ao lazer e sono de todos os escravos

VISITA ÍNTIMA:
Normalmente, divisões internas da senzala separavam homens e mulheres. Mas, algumas vezes, era permitido aos poucos casais aceitos pelo senhor morarem em barracos separados, de pau-a-pique, cobertos com folhas de bananeira.

ROÇA:
Aos domingos, os escravos tinham direito de cultivar mandioca e hortaliças para consumo próprio. Podiam, inclusive, vender o excedente na cidade. A medida combatia a fome do campo, pois a monocultura de exportação não dava espaço a produtos de subsistência.

HORA DO TAMBOR:

Quando a noite caía, o som dos batuques e dos passos de dança dominava a senzala. As festas e outras manifestações culturais eram admitidas, pois a maioria dos senhores acreditava que isso diminuía as chances de revolta.

Salvador de pé no chão- Na primeira capital do Brasil, quase metade da população era escrava

DOCES E CRIANÇAS:
Forras quituteiras faziam doces de tabuleiro e rivalizavam com as receitas das escravas que pilotavam as cozinhas das senhoras. Além de atrair clientes, elas tinham de cuidar dos filhos, brincando à sua volta. Pelas ruas da cidade, havia crianças aos montes e muito barulho.

ESPECIALIZADOS:
Com a expansão das cidades, multiplicam-se escravos urbanos em ofícios especializados, como pedreiros, vendedores de galinhas, barbeiros e rendeiras. Os carregadores zanzam de um lado a outro, levando baús, barris, móveis e, claro, brancos.

CADA UM NO SEU QUADRADO:
Nas esquinas, forros e escravos de mesmas etnias ou ofícios se reuniam à espera de clientes. Eram os "cantos", agrupamentos estimulados pela administração pública, que instigava hostilidades entre os negros para evitar a associação em massa contra a elite branca.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/Portal do Arquivo Nacional sobre a história luso-brasileira.

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

O Coronavírus persiste e dados científicos se tornam disponíveis para a população, temos observado que a pandemia evidencia como as desigual...