UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A Bíblia: Cristianismo e uma conversa sobre sua afro descendência...

"MUITOS líderes religiosos respondem que “Sim”. Os clérigos Robert Jamieson, A. R. Fausset e David Brown, em seu comentário bíblico, asseveram: “Maldito seja Canaã [Gênesis 9:25] — esta maldição se tem cumprido na escravização dos africanos, os descendentes de

Cão.” — Comentary, Critical and Explanatory, on theWhole Bible (Comentário, Crítico e Explicativo, de Toda a Bíblia).

Afirma-se que não só a escravização dos negros cumpria tal maldição bíblica, mas que sua cor preta também. Assim, muitos brancos foram levados a presumir que os negros são inferiores, e que Deus propôs que fossem servos dos brancos. Muitos negros ficaram amargurados pelo tratamento recebido, em resultado desta interpretação religiosa.

Uma delas observa: - "Ao longo dos séculos algumas pessoas tentaram provar que a raça negra está destinada a ser subserviente por causa das palavras de Noé sobre o seu filho Cam que foi o pai dos povos africanos. Observemos o próprio texto da Escritura, e então eu darei três razões de porque isso não determina como os povos da África devem ser vistos e tratados. Lembre-se que Noé tinha três filhos: Sem, Cam e Jafé."


Mas, primeiro de tudo, queira notar que nada se diz neste relato bíblico sobre alguém ser amaldiçoado com a negritude de pele. E, observe, também, que foiCanaã, e não seu pai Cã, que foi amaldiçoado. Canaã não tinha pele negra, nem seus descendentes, que se fixaram na terra que se tornou conhecida como Palestina. (Gên. 10:15-19) Os cananeus, com o tempo, foram subjugados pelos israelitas, descendentes de Sem, e, mais tarde, pela Medo-Pérsia, Grécia e Roma, descendentes de Jafé. Tal subjugação dos cananeus cumpriu a maldição profética sobre seu ancestral, Canaã. A maldição, assim, nada teve que ver com a raça negra.

Gênesis 9.21–25:

Bebendo do vinho, embriagou-se [Noé] e se pôs nu dentro de sua tenda. Cam, pai de Canaã, vendo a nudez do pai, fê-lo saber, fora, a seus dois irmãos. Então, Sem e Jafé tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios ombros de ambos e, andando de costas, rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a vissem. Despertando Noé do seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço. Então disse: “Maldito seja [ou “será”] Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos”.

Agora observe três coisas: A Maldição de Noé Cai sobre Canaã...


Primeiro, Noé toma essa ocasião do pecado de seu filho Cam e a usa para fazer uma predição sobre a prosperidade do filho mais novo de Cam, Canaã. Basicamente a predição é que os cananitas eventualmente seriam subjugados pelos descendentes de Sem e Jafé.

Ora, há muitas perguntas a se fazer aqui. Mas eu só tenho tempo para apontar algumas poucas relevantes ao nosso ponto principal. Cam tinha quatro filhos de acordo com Gênesis 10.6. “Os filhos de [eram] Cam: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã”. Ora, em termos gerais, Cuxe é provavelmente o ancestral dos povos da Etiópia; Mizraim é o ancestral dos egípcios; e Pute é o ancestral dos povos do norte da África, os líbios. Mas Canaã é o único dos quatro filhos que não é ancestral de povos africanos. Gênesis 10.15–18 cita os descendentes de Canaã:

“Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete, e aos jebuseus, aos amorreus, aos girgaseus, aos heveus, aos arqueus, aos sineus, aos arvadeus, aos zemareus e aos hamateus”. Todos esses povos eram habitantes de Canaã e proximidades, não da África. E a predição de Noé se tornou verdade quando as nações cananitas foram expulsas pelos israelitas por causa de sua perversidade (Deuteronômio 9.4–5). Então a maldição não recai sobre os povos africanos, mas sobre os cananitas.

A Historia contado no livro o caminho ( a Biblia)...

O cristianismo, mesmo firmando-se como de origem divina, é historicamente  africana. No mundo do Velho Testamento as raízes bíblicas da fé judaica tem uma relação em separável dos etíopes.


Que no contexto da época não significava um morador da Etiópia. O termo “etíope”não somente se referia aos habitantes daquela terra antiga, mas também aos povos de pele escura ao redor de todo o globo. Essa relação continuou por muito tempo resultando os judeus falasha etíopes. A maior parte dos etíopes traçam as suas raízes à rainha de Sabá e ao rei Salomão. José se casou com uma mulher etíope (Gênesis 41:50-52), e os seus dois filhos (Manassés e Efraim) se tornaram líderes de tribos judaicas. Jetro, um etíope, foi o principal conselheiro de Moisés (Êxodo 18:1-12). Moisés se casou com uma mulher etíope (Números 12:1). Os israelitas não foram proibidos de se casarem com mulheres cusitas/etíopes (Êxodo 34:11,16). Jeudi (Jeudi significa judeu), um secretário na corte do rei durante o tempo de Jeremias, era um descendente de Cusi/Etiópia (Jeremias 36:14, 21, 23).
 O nome do avô de Jeudi (Cusi) literalmente significa “preto”. “Cusi” se refere a uma pessoa de descendência africana. Sofonias, o profeta, era também um descendente de Cusi (Sofonias 1:1). Há diversas passagens no Velho Testamento que traça um relacionamento único entre Deus e o povo etíope o povo negro.

No Novo Testamento, há ampla informação que nos ajuda a pensar na matriz africana do cristianismo. Desde os magos que vieram adorar o menino Jesus que são apresentados como etíopes (Mateus 2:1-12), a Simão o Zelote como um apóstolo negro, os cananitas eram descendentes de Cam ( Mateus 10:4). Simão de Cirene ajudou Jesus a carregar a sua cruz (Mateus 15:21). Cirene era um país da África do Norte.


Os cirênios repartiram o evangelho
com os gregos, filhos de Jafé (Atos 11:20). O eunuco etíope estava lendo uma Bíblia judaica em uma província romana quando o Espírito do Senhor guiou um homem grego a pregar Jesus para ele (Atos 8:26-39). Apolo (Atos 18:24), um nativo da terra de Cam, foi um eloqüente pregador e líder na igreja de Éfeso e em Corinto. Os países dos descendentes de Cam foram representados no Pentecostes (Atos 2:10,11). Simeão o Negro e Lúcio de Cirene foram líderes na igreja de Antioquia (Atos 13:1). Onde os crentes foram, pela primeira vez, chamados cristãos. (Atos 11:26). Os Sírios eram negros. Foi na Antioquia da Síria que Lúcio e Simeão ordenaram e comissionaram o apóstolo Paulo para o ministério do evangelho (Atos 13:2,3). A tarefa de Paulo era levar o evangelho para a Europa.

A Maldição de Noé Não Trata de Indivíduos.
Segundo, a nação predita de Noé não dita como o povo de Deus deve tratar cananitas individuais. Por exemplo, cinco capítulos depois, em Gênesis 14.18, Abraão, descendente de Sete, encontra um cananita nativo chamado Melquisedeque, que era homem justo e “sacerdote do Deus Altíssimo”, e que abençoou Abraão. Abraão deu a ele o dízimo dos seus espólios. Então nem mesmo o fato de que Deus ordena julgamento sobre nações perversas dita a nós como devemos tratar indivíduos nas mesmas nações.
Deus Planeja Redenção para Todas as Nações:

Terceiro, em Gênesis 12, Deus coloca em ação um grande plano de redenção para todas as nações, para resgatá-las dessa e de qualquer outra maldição de pecado e julgamento. Ele chama a Abrão para todas as nações e faz uma aliança com ele e promete: Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra”. “Todas as famílias da terra” inclui as famílias cananitas.

Então o que vemos é que, com Abraão, Deus está colocando em ação um plano de redenção que derruba cada maldição sobre qualquer pessoa que recebe a bênção de Abraão, a saber, o perdão e a aceitação de Deus que vem através de Jesus Cristo, a semente de Abraão (Gálatas 3.13–14).

"O apóstolo Paulo, em um caso de erro de identidade, foi classificado de egípcio (Atos 21:38). As raízes de Paulo podem ser traçadas à tribo de Benjamim (Filipenses 3:5). A ancestralidade de Benjamim a Quis (Ester 2:5)"

Sendo um descendente de um benjamita implica em que ele era da posteridade do povo negro. Enfim, os dias de Jesus Cristo foram totalmente em um contexto africano desde a sua ida ao Egito logo após o seu nascimento, a sua vida na Palestina que fazia parte da África. Essa raiz africana do cristianismo e o fato da Etiópia ser o país cristão mais velho do mundo é indiscutível não pensar em um cristianismo de matriz africana. Mesmo pós Novo Testamento as igrejas do Norte da África e da Etiópia foram as igrejas líderes. Pelo menos nove dos dezoito líderes mais proeminentes no cristianismo pós Novo Testamento eram africanos. Eles incluíam Clemente, Orígenes, Tertuliano, Cipriano, Dionísio, Atanásio, Dídimo, Agostinho e Cirilo. Agostinho é reconhecido como o pai da teologia. O povo do Norte da África, e Egito eram, indiscutivelmente, de pele escura, antes da conquista dos árabes.

Mas quando o mesmo Domiciano comandou que todos os descendentes de David fossem assassinados, uma antiga tradição afirma que alguns dos heréticos acusaram os descendentes de Judas (dito irmão do Senhor pela carne), com base em sua linhagem vinda de Davi e sua relação com o próprio Cristo. Hegésipo relata esses fatos usando as seguintes palavras.
História Eclesiástica

"Jogamos apenas alguns observações para que posamos repensar alguns conceitos ou pelo menos repensar nosso discurso ' ...

Um afro abraço.


Claudia Vitalino.

fonte:pt.wikipedia.org/www.pragmatismopolitico.com.br/

O Natal Começa em cada um de nós... : Feliz Natal Kwanzaa !!!

É meio cliché -  O verdadeiro espírito de natal começa em cada um de nós, depende da nossa vontade de fazer felizes quem nos rodeia, depende do nosso empenho para ajudar quem mais precisa e depende da nossa criatividade para mudar o mundo! Acredito que não devemos ter limites, que devemos sonhar ao máximo e dar o nosso melhor em tudo e, claro, partilhar com todos os que estão à nossa volta. Por isso, hoje quero mostrar-vos uma iniciativa que me chamou a atenção.

Se liga: Nem todas as pessoas comemoram o Natal no dia 25 de dezembro. 

Algumas culturas, nem sequer comemoram o Natal, como referência ao nascimento de Jesus Cristo (ou Jesus de Nazaré).

- Natal é um feriado e festival religioso cristão originalmente destinado a celebrar o nascimento anual do Deus Sol no solstício de inverno e adaptado pela Igreja Católica, no terceiro século d.C., pelo imperador Constantino para comemorar o nascimento de Jesus de Nazaré.

Porém, nem todas as culturas absorveram a tradição de celebrar o dia 25 de dezembro, seja como uma homenagem ao nascimento de Jesus, ou, pela adoração da passagem do sol ao redor da Terra.

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Algumas culturas que não comemoram o Natal como uma data primordial em seu calendário:

Islamismo
Ao contrário das religiões cristãs - para as quais Jesus é o Messias, o enviado de Deus - o islamismo dá maior relevância aos ensinamentos de Mohamad, profeta posterior a Jesus (que teria vivido entre os anos 570 e 632 d.C.), pois este teria vindo ao mundo completar a mensagem de Jesus e dos demais profetas.

Em relação à celebração do Natal, os muçulmanos mantêm uma relação de respeito, apesar de a data não ser considerada sagrado para o seu credo.

Para os muçulmanos, existem apenas duas festas religiosas: o Eid El Fitr, que é a comemoração após o término do mês de jejum (Ramadan) e o Eid Al Adha, onde comemoram a obediência do Profeta Abraão a Deus.

Judaísmo
Os judeus não comemorem o Natal e o Ano Novo na mesma época que a grande maioria dos povos, mas para eles, o mês de dezembro também é de festa. Apesar de acreditarem que Jesus existiu, os judeus não mantêm uma relação de divindade com ele.

Na noite do mesmo dia 24 de dezembro os judeus comemoram o Hanukah, que do hebraico significa festa das luzes. Esta data marca a vitória do povo judeus sobre os gregos conquistada, há dois mil anos, em uma batalha pela liberdade de poder seguir sua religião.

Apesar de não ser tão famosa no Brasil, a festa de Hanukah, que, tradicionalmente, dura 8 dias, em outros países é tão "pop" como o Natal. Em Nova Iorque, por exemplo, as lojas que vendem enfeites de Natal também vendem o menorah (candelabro de 8 velas considerado o símbolo da festividade judaica). "Para cada um dos 8 dias acendemos uma vela até que o candelabro todo esteja aceso no último dia de festa", explica o rabino.

O peru e bacalhau típicos do Natal católico são substituídos por panquecas de batata e bolinhos fritos em azeite. E em vez de desembrulharem presentes à meia-noite, as crianças recebem habitualmente dinheiro.

Budismo
Não há envolvimento do budista com a característica particular da comemoração do Natal do mundo ocidental, ou seja, da comemoração do nascimento de Jesus Cristo. Mas, os budistas admiraram as qualidades daqueles que lutam pela humanidade e, por isso, respeitam a tradição já estabelecida, respeitando a figura de Jesus Cristo, que para eles é considerado um “Bodhisattva” – um santo ou aquele que ama a humanidade a ponto de se sacrificar por ela. Para os budistas ocidentais, o dia 25 de Dezembro tem um cunho não cristão, mas sim, espiritual.

Protestantismo
Embora seja uma religião cristã, é subdividida em diversas “visões” da Bíblia. Algumas comemoram o Natal como os católicos, outros buscam na Bíblia e no histórico religioso, cuja data de nascimento de Cristo é discutida, um fundamento para não comemorar a data tal como é comemorada no catolicismo. É o caso das testemunhas de Jeová, por exemplo. Já a Assembleia de Deus e a Presbiteriana comemoram o Natal com o simbolismo da presença de Cristo entre os homens, onde a finalidade é levar a uma instância reflexiva a respeito de Cristo. Festejar condignamente o Natal é uma bênção e inspiração para todos quantos nasceram do Espírito ao tornarem-se filhos de Deus pela fé em Cristo, para os evangélicos.

Afro-Brasileiras (Candomblé e Umbanda)
Yemanjá, Yansã e Oxum e outros deuses são entidades comemoradas ao longo do ano nas religiões afro-brasileiras, que têm no mês de dezembro um simbolismo todo especial. Mas para os umbandistas a comemoração do natal cristão é algo mais natural, porque a maioria dos seus seguidores e médiuns praticantes veio da religião cristã. A umbanda encontrou um lugar para Cristo no rol de suas divindades – ele é associado a Oxalá, considerado o maior Orixá de todos. No dia 25 de dezembro, os umbandistas agradecem à entidade que, segundo a sua crença, comanda todas as forças da natureza.

Alguns terreiros de Candomblé também oferecem algum ritual especial à data, mas a prática não configura uma passagem obrigatória em todos os centros.

Hinduísmo
As mais importantes celebrações do hinduísmo são ocorridas na Índia, por meio da Durga Puja, o Dasara, o Ganesh Puja, o Rama Navami, o Krishna Janmashtami, o Diwali, o Holi e o Baishakhi. O Durga Puja é a festa da energia divina. Já o festival de Ganesh é celebrado nos estados do sul da Índia, com danças alegres e cantos. O Diwali é o “festival das luzes” em que em cada casa, em cada templo são colocadas milhares e milhares de luzes, acesas toda a noite. O significado destas festas é adorar a Energia Divina.

Taoísmo
O taoismo, religião majoritariamente vista na China, não tem qualquer celebração no Natal.
No entanto, a religião tem inúmeras datas onde se comemora o nascimento de grandes mestres ou sua ascensão. O Ano Novo Chinês, assim como no budismo, é a data mais comemorada para os taoístas. Nesse dia se celebra o Senhor do Princípio Inicial.


 "NATAL, CULTURAS QUE NÃO COMEMORAM O NATAL,
 QUEM NÃO COMEMORA O NATAL, HINDUÍSMO, BUDISMO, CATOLICISMO, PAGÃO,
COMEMORAÇÃO DO NATAL, 
PORQUE COMEMORAR O NATAL, 25 DE DEZEMBRO, FESTAS NO 25 DE DEZEMBRO, PARTICULARIDADES DO NATAL, ISLAMISMO, JUDAÍSMO, PROTESTANTISMO, AFRO-BRASILEIRAS, CANDOMBLÉ,UMBANDA, TAOISMO."



Natal afro americano....
O natal de muitos Afro-americanos é comemorado em 26 de dezembro, nesta data muitos comemoram o Kwanzaa, uma festa que se originou na época do movimento pelos direitos civis na década de 1960. Uma comemoração do patrimônio da Afrohumanidade. Kwanzaa uma palavra africana da língua suaíli idioma banto com o número maior de falantes. Na África tradicional Kwanzaarepresenta as primeiras colheitas; na América do Norte e Caribe os participantes dessa festa são afrodescendentes.

Esta celebração está a espalhar-se lentamente pelos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Caribe e já se podem enviar postais a desejar “Feliz Kwanzaa”. Toda a celebração e os rituais da Kwanzaa foram concebidos após as famosas e terríveis revoltas de Watts, em 1966. Ele buscou em remotas tradições africanas valores que fossem cultivados pelos afro-americanos naqueles terríveis dias de lutas pelos direitos civis, de assassinatos de seus principais líderes e que, não sendo religiosos, pudessem atrair - como atraíram - todas as Igrejas Negras em todo o país e, no futuro, pelo mundo afora. O Kwanzaa foi idealizado por Maulana Karenga, que organizou a Kwanzaa em torno de 5 atividades fundamentais, comuns às celebrações africanas da colheita das primeiras frutas:
a reunião da família, de amigos, e da comunidade;
a reverência ao criador e à criação, destacadamente a ação de graças e a reafirmação dos compromissos de respeitar o ambiente e "curar" o mundo;
a comemoração do passado honrando os antepassados, pelo aprendizado de suas lições e seguindo os exemplos das realizações da história;
a renovação dos compromissos com os ideais culturais mais altos da comunidade como a verdade, justiça, respeito às pessoas e à natureza, o cuidado com os vulneráveis e respeito aos anciões; a celebração do "Bem da Vida" que é um conjunto de luta, realização, família, comunidade e cultura. Karenga, diz que, "a Kwanzaa é celebrada através de rituais, diálogos, narrativas, poesia dança, canto, batucada e outras festividades".

 O Kwanzaa envolve a reflexão sobre a valorização da comunidade, das crianças e da
Vida. Estas atividades devem demonstrar os sete princípios, Nguzo Saba em suaíli
:
1.umoja (unidade)
2.kujichagulia (autodeterminação)
3.ujima (trabalho coletivo e responsabilidade)
4.ujamaa (economia cooperativa)
5.nia (propósito)
6.kuumba (criatividade)
7.imani (fé)


A cada dia uma vela de cor diferente deve ser acesa num altar onde são colocadas frutas frescas, uma espiga de milho por cada criança que houver na casa. Depois de acesa a vela, todos bebem de uma taça comum em reverência aos antepassados, e saúdam com a exclamação “Harambee”, que tanto significa "reúnam todas as coisas" como "vamos fazer juntos". A grande festa é a de 1 de janeiro, quando há muita comida, muita alegria e onde cada criança deve ganhar três presentes que devem ser modestos: um livro, um objeto simbólico e um brinquedo.

Criado como um ritual para a época da colheita e usando a língua suaíli, Kwanzaa dura uma semana, durante o qual os participantes se reúnem com a família e amigos para trocar presentes à luz de uma série de velas pretas, vermelhas e verdes que simbolizam os sete valores básicos dos Afro-americanos vida familiar que é a unidade, autodeterminação trabalho coletivo e responsabilidade, economia cooperativa, propósito criatividade e fé.

Os dias que antecederam a Kwanzaa são para decorar a casa com enfeites de papel preto, vermelho e verde. Nesta festa se ensina a criança sobre sua cultura e historia. Eles colocam fotografias da atual geração da família. A celebração dura sete dias e termina com

uma festa que tem alimentos africanos, e muita música. No final da festa, quando todos tiverem terminado de comer, eles todos se levantam, se comprometam com os sete princípios do Kwanzaa. 

Um afro abraço e  Feliz Kwanzaa !!!


fonte:KWANZAA.COM-www.ebc.com.br/cultura-Portal EBC

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Votos que Zumbi Renasça em nos e que nunca percamos de vista a luta por uma sociedade justa.Boas Festas Gente Linda!!!

FIM : Hora de Recomeço...
O mês de dezembro representa um fim, de um ciclo mas também anuncia um recomeço ou um novo ano.

A vocês, que TOD@S contribuíram de uma forma ou de outra, direta- ou indiretamente, para tornar a UNEGRO este ano mais forte, mais cheio de vida, o meu muito obrigado!

Uns, podem achar que contribuíram com que uns  chamam de "besteiras", mas toda contribuição e valiosa, e nos proporcionaram no minimo muitos momentos de risadas alegres, descontraídas. - Valeu!!!

Aos que travaram, as batalhas - Valeu mais ainda!!!   - Os enfrentamentos que nos  fazem ser quem somos ...

 Obrigado!       Pela construção de lutar por uma sociedade mais justa onde negr@s e não negr@s possam ter oportunidades iguais...

O fim do ano nos aproxima do fim de parte de nossa caminhada na terra, mas nos aproxima também do começo de nossa vida definitiva. Se o corpo amadurece, a alma não envelhece; é dotada de juventude perene; se na velhice do corpo ela não se manifesta, isto se deve a deterioração do corpo, e não a insuficiência da alma humana, que tem o corpo como seu instrumento.

Nesse contexto pode-se crer que três sentimentos movem a tod@s :
1) Gratidão ao pelo dom da vida. O tempo é a primeira dádiva dada ao homem;
Junto com a gratidão vai um ato de arrependimento pelo possível descaso do tempo que foi confiado.

2) Mais maturidade... A vida é uma escola, em que vamos aprendendo a escalonar sempre

melhor os nossos valores, de modo a viver sempre mais acertadamente na demanda do Absoluto e Definitivo. - O começo de novo ano é um convite a mais seriedade e profundidade.

3) Alegria... Se, de um lado, o corpo vai-se fragilizando e com o tempo não nos faça renunciar a nenhum dos valores legítimos.


 - Vai chegando ao fim o ano como um barco que navega, é mais e mais penetrado pela luz da vida definitiva emitida pelo porto ao qual tende.  

- A vida não pode deixar de ser marcada por uma vida alegria interior, pois deve ser um progresso que, deixando para trás infantilismo e imaturidade, vai sendo invadida pelos valores eternos que lhe serão cada vez mais próximos.

É com estas ponderações que desejamos a tod@s unegrin@s e amigos um Natal e Fim de

Ano e Abençoado na Fé seja ela qual for ,que seja um passo largo em demanda da Eternidade.

"E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro: 
"(Martin Luther King)


Na hora do brinde, vamos tentar lembrar uns dos outros, cada um pensando nos outros, e quem sabe lá em cima, em algum lugar do espaço, a gente não se encontra?

AMIGOS SEMPRE SE ENCONTRAM!!!

Um beijo individual no coração de cada um de vocês, com todo o meu carinho e respeito.
Um afro abraço.


 Claudia Vitalino

sábado, 19 de dezembro de 2015

Lenda das quedas de água do Dala (Lunda) – Angola

Na margem esquerda da cascata do Dala, foi habitar o soba Cahibo, um autêntico Nero de raça negra, cuja memória aterrorizante ficou escravizada na tristíssima lembrança dos povos da Lunda, sempre prontos a recordar os seus crimes, tão bárbaros como estranhos, levados a termos com requintes da máxima selvajaria – manifestção doentia e miseranda de seu génio bárbaro, sedento de grandes emoções, que fizessem vibrar até o delírios, sua sensibilidade desumana !
Corre de memória em memória, que um dia, dominado pelo prazer extra-humano, possuído de uma vertigem de sangue, esse soba cruel mandou matar duas crianças virgens, das mais belas flores negras do seu enorme sobado.
Revestido de grande solenidade, como se estivesse a assistir à sua própria coroação, fazendo brilhar sua loucura, o soba Cahibo, impassível, assistiu ao acto de tortura das tristes virgens, mortas lentamente ante o deslumbramento selvagem da turba ignara.

Poucos dias depois de consumado o crime hediondo – pobre lembrança no recordar das gentes – apareceu na embala do soba Cahibo, sem se saber qual a sua origem, um lindo casal de aves, de penas brancas e muito setinosas.

Todos os dias ao pôr do sol, alegres e no ar bailando, as aves iam banhar-se nas revoltosas e frias águas da cascata da Dala.

Dizem os descendentes do antigo e poderoso sobado do sanguinário rei Cahibo que logo após a entrada das aves nas águas da cascata, um barulho ensurdecedor – dir-se-ia infernal batuque executado por uma enorme tribu aguerrida – se fazia ouvir durante algum tempo, amedontrando os habitantes da embala…
Depois de muito se banharem, esvoaçando envolvidas no pó da água, deixando cair aqui e ali, leves gotas de líquido cristalino, as aves felizes, regressavam, rompendo a nuvem húmida, ao sobado, ainda e sempre aterrorizado.
Aconselharam o soba a mandar matar as aves brancas.Receoso, julgando cair no desagrado dos mortos, o soba ordenou que não lhes tocassem, porque dizia – eram almas do céu vindas à terra !…

Uma tarde, já o sol ia a morrer no seu engano de todos os dias, as aves soltaram vôo, e lá foram, como de costume, banhar-se na cascata.

Nesse morrer do dia, o barulho foi tão grande, tão grande, que o medo, elevado à demência, endoidou a pobre gente do sobado.

Cahibo, agora mísero farrapo humano, juntou-se aos seus e, tremente, semi-louco, abalou de suas terras para não mais voltar.
E, no dia seguinte, as aves lá foram no cumprimento de sua estranha missão.



Mergulharam nas cristalinas águas da cascata do Dala e jamais voltaram do seu banho eterno…
É da crença – crença de ontem, de hoje e que irá pelos séculos fora – dos moradores da região do Dala, junto do rio Chiumbe, que essas aves brancas eram as almas das pobres virgens sacrificadas, miserandamente, pela crueldade do soba Cahibo, morto pouco tempo depois de abandonar suas terras, pelo desígnio dos deuses !

Um afro abraço.
fonte:casadecha.wordpress.com/category\

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

NEGRAS LÉSBICAS:O estereótipo sapatão: visibilidade, lesbofobia e f​eminilidade

"​SER UMA MULHER NEGRA LÉSBICA ME GARANTE PRESENCIAR LESBOFOBIA E RACISMO EM ESPAÇOS DE LUTA. ALGUMAS MUITAS VEZES ISSO ACONTECE DE FORMA NÃO PENSADA POR QUEM PRATICA E OUTRAS TANTAS DE FORMA BASTANTE DESLEGITIMADORA.”
​ ((REBECA NASCIMENTO )​

Estas colocações são a base da linha de pensamento aqui apresentada. Qual a representação das mulheres lésbicas na mídia? Qual o estereótipo de sapatão a que estamos acostumadas e acostumados? Quem são as lésbicas que sofrem diretamente com a lesbofobia e o que a feminilidade tem relação com isso?
Carol Ferza coloca muito bem qual a representação das mulheres lésbicas na televisão brasileira. Lésbicas brancas seguem o padrão de beleza imposto que já sabemos muito bem. Além de pertencerem a uma classe social financeiramente perfeita, suas vidas profissionais e pessoais não são afetadas pela orientação sexual. Lésbicas negras, por outro lado, são representadas de uma forma geral como a maioria dos homens negros são representados: atuando com trabalhos braçais, em péssima situação financeira, com interesses prioritariamente sexuais em relação a outras mulheres e sem acesso à educação.
“MEU DESEJO POR REPRESENTATIVIDADE NÃO VISA SIMPLESMENTE UMA VONTADE DE NUTRIR MINHA AUTOESTIMA. NÃO! TRATA-SE DE EDUCAR AS PESSOAS, MOSTRAR LÉSBICAS NEGRAS (E AS DEMAIS COLORIDAS) NA SUA ESSÊNCIA COMO PESSOAS, COMO CIDADÃS, COMO SERES HUMANOS DOTADOS DE SUAS VIRTUDES E MAZELAS COMO QUALQUER OUTRA, INDEPENDENTE DE SUA SEXUALIDADE.” (CAROL FERZA)

Essa representação difere sensivelmente da representação de mulheres lésbicas das grandes produções dos EUA, onde existem mulheres lésbicas brancas e negras, em suas variadas trajetórias, corpos, vivências e preferências, tanto em Orange Is The New Black quanto em The L Word – onde nenhuma das séries colocam mulheres brancas e negras em pé de igualdade – e outras séries e programas existentes, atuais ou não. Lembrando que isso não significa que são representações boas, muito pelo contrário, mas algo a ser tratado em outro texto, não apenas pela representação, mas também por todas as possíveis críticas a se fazer nas duas séries.

Rebeca aponta os impasses de militar sendo uma lésbica negra. O movimento negro ainda não está preparado para falar sobre lesbofobia e todas as agressões recorrentes às lésbicas negras, e o movimento lésbico ainda não está preparado para falar e discutir sobre racismo e todas as agressões recorrentes às lésbicas negras. Um ano se passou e poucas

mudanças ocorreram. Coletivos do movimento negro ainda não conseguem fazer o recorte para dialogar conosco e coletivos feministas prioritariamente lésbicos não avançam na desconstrução do racismo enraizado nos discursos, reações e pensamentos. As ações coletivas nos espaços feministas, quando não são prioritariamente lésbicos, abrangem pautas que possuem relação com mulheres lésbicas mas desconsideram estas mulheres, como Agnes Aguiar aponta e questiona.

A falta de representação e representatividade acarretam em formas de expressão que diferem a convivência, o discurso e a compreensão de tudo o que está em nossa volta. Como já mencionei, mesmo sem saber muito bem o que procurava, nunca me senti representada direta ou indiretamente na mídia, o que me fez absorver alguns padrões e demorar bastante tempo para me desprender dos mesmos. Um deles foi a feminilidade.

É bastante complicado, para mim, falar ou escrever sobre feminilidade. Não discordo de reflexões acerca da feminilidade que apontam que é uma imposição social extremamente agressora que fomenta o capitalismo patriarcal, mas não deixo de pensar, ainda assim, que mulheres negras tiveram suas feminilidades negadas desde que seus corpos começaram a desenvolver-se. A feminilidade está, atualmente, conectada com a beleza, delicadeza e sutileza feminina, no coração de mãe, na grande conquista que é dar vida a outro ser. Que
mulher negra é considerada delicada? Que mulher negra é considerada bela pelos padrões de beleza? Que mulher negra é sutil? Que mulher negra considera uma conquista dar vida a outro ser?

Na descoberta da minha lesbianidade, equivocadamente achei que precisaria me parecer ao máximo com um garoto para poder me aproximar de mulheres lésbicas, mas ao longo dos anos, percebi que resistir à feminilidade, para muitas mulheres, é algo que as protegem do assédio sexual – como consequência, as tornam uma sapatão visível e, automaticamente, as deixam mais vulneráveis às agressões lesbofóbicas da sociedade, por não serem “lésbica padrão da televisão” que atrai os olhares masculinos e fetichizam a relação lésbica.

O estereótipo sapatão é, muitas vezes, diretamente associado com a não aceitação da feminilidade. Ou seja, lésbicas masculinas ou a butch, estão muito mais vulneráveis às agressões lesbofóbicas da sociedade do que, por exemplo, lésbicas femininas, que estão mais vulneráveis a terem suas relações afetivas e sexuais extremamente fetichizadas pelo olhar masculino e a mídia num todo.


Mulheres lésbicas negras, “femininas ou masculinas”, estão suscetíveis às agressões lesbofóbicas e racistas e, independentemente de suas aparências e comportamentos, é impossível separar lesbianidade e negritude, mesmo quando essa mulher não corresponde aos esteriótipos de mulher negra e mulher lésbica. Sempre teremos dificuldade em encontrar espaços onde nossa saúde, não apenas corporal mas mental também, nossa vivência, nossas necessidades, nossa segurança, nossa representação, nossa participação e autonomia sejam inseridas em discussões, estejam representadas de uma forma séria e relevante. Sempre será extremamente difícil ter que dizer para as pessoas que existem lésbicas negras e existem negras lésbicas. Enquanto nossa representatividade for inexistente, enquanto formos pessoas invisíveis na sociedade, teremos a necessidade de nos colocarmos à frente de coletivos e espaços (públicos ou não), cobrando representação, pautando nossas próprias necessidades, mas não passando por cima das necessidades e pautas de outras mulheres, com diferentes sexualidades.

NÓS EXISTIMOS E RESISTIMOS.
 Que toda mulher negra e lésbica se afirme por mim, por
ela e por todas:Somos negras e lésbicas.

Afro abraços!

Por:Marisa Justino
UnegroNova Iguaçu / RJ
​Diretoria Plena - pasta LGBT

sábado, 12 de dezembro de 2015

Carolina Maria de Jesus - a voz dos que não têm a palavra...

Semi-analfabeta, negra e favelada, Carolina foi mãe de três filhos e nunca se casou.
Apesar de tais condições, a paixão dela pela escrita e leitura foi tamanha que passou a dividir seu tempo entre cata papel, cuidar dos filhos e escrever.Lançado pela Livraria Francisco Alves em agosto de 1960,

Historiografia:
Carolina Maria de Jesus (Sacramento MG, ca.1914 - São Paulo SP, 13 de fevereiro de 1977). Autora de diários e romance e também poeta. De família pobre, composta por mais sete irmãos, trabalha desde a infância. Sua escolaridade se resume aos dois anos que frequenta o Colégio Allan Kardec, provavelmente em 1923 e 1924. Neste ano, muda-se com a família para uma fazenda em Lageado, Minas Gerais, onde trabalham como lavradores. Retorna a Sacramento, em 1927, e, por causa das dificuldades econômicas, migra para Franca, São Paulo, em 1930, passando o primeiro ano na fazenda Santa Cruz e, depois, na cidade, onde trabalha como ajudante na Santa Casa de Franca, auxiliar de cozinha e doméstica. Com a morte da mãe em 1937, vai para São Paulo em busca de melhores condições de vida. De 1948 a 1961, reside na favela Canindé, sobrevivendo como catadora de papel e ferro velho. Em 1958, o jornalista Audálio Dantas, numa reportagem sobre a inauguração de um playground no Canindé, conhece Carolina e se interessa pelos seus 35 cadernos de anotações em forma de diário, e publica um artigo na Folha da Noite. Em 1959, trabalhando na revista O Cruzeiro, o jornalista divulga trechos dos relatos escritos pela autora e, posteriormente, empenha-se na publicação que reúne esses relatos, Quarto de

Despejo: Diário de uma Favelada, lançado em 1960, com notável sucesso editorial. Carolina muda-se para uma casa que consegue comprar no bairro de Santana e mantém o diário com registros do que lhe acontece ali, depois editados em Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada, em 1961. Em 1963, publica Pedaços da Fome, seu único romance, que tem pouca repercussão. Em função dos contínuos desentendimentos com seus editores, bem como das dificuldades enfrentadas para manter-se em evidência e adaptar-se à vida no bairro de classe média, muda-se para um sítio no bairro de Parelheiros, São Paulo, em 1969, onde é praticamente esquecida pelo mercado editorial, apesar de algumas tentativas de voltar à cena literária. Após sua morte, são editadas obras escritas entre 1963 a 1977, das quais a mais significativa é Diário de Bitita, com suas memórias de infância e juventude, inicialmente lançado na França.

"O livro... me fascina. Eu fui criada no mundo. Sem orientação materna. Mas os livros guiou os meus pensamentos. Evitando os abismos que encontramos na vida. Bendita as
horas que passei lendo. Cheguei a conclusão que é o pobre quem deve ler.
Porque o livro, é a bussola que ha de orientar o homem no porvir (...)

-Em Quarto de Despejo, a mulher negra e favelada, com pouca escolaridade, registra o cotidiano de pobreza que rege seus dias, bem como a humilhação social e moral a que estão sujeitos os habitantes da favela do Canindé. As anotações de Quarto de Despejo, embora com descontinuidades cronológicas, não apresentam quebras na estrutura narrativa: cada dia é igual a todos os outros, e o que conduz o fluxo da vida é a fome e a luta contra ela. Nelas se pode constatar que o trabalho, precário, não traz mais do que a condição mínima da sobrevida e a reprodução da pobreza.


Nos apontamentos de seu dia-a-dia, Carolina Maria de Jesus oscila entre desânimo e alegria, sentimentos norteados pela carência de condições materiais para manter-se e a seus filhos em situação digna. Ao tratar dos outros moradores da favela, Carolina Maria de Jesus busca diferenciar-se e deixa documentada, em tom de denúncia ou de moralização, a perda da honra daqueles que, excluídos, estão no "quarto de despejo" da cidade. Escrever sobre a favela não é apenas uma forma de tentar dar sentido à própria vida, mas também de revelar a miserabilidade implicada na modernização dos anos 1950.
O relato do cotidiano da favela é direto e cru, sem que se temam os temas-tabus, como a ocorrência de incestos e de relações promíscuas, bem como o horror que a fome pode produzir. Estilisticamente, os recursos da repetição e das frases feitas indicam, no plano do sentido, o fechamento e a imobilidade do mundo social ali representado; a cada entrada no diário, a autora anota o horário em que acorda, os gastos que terá se quiser se alimentar e vestir os filhos e o que poderá, ou não, acumular em dinheiro, o qual tem valor concreto e imediato, quase como um objeto. Os momentos de lirismo aparecem em anotações sobre a

natureza, que surge como contraponto ao estado da miserabilidade a que são confinados os pobres.

Fugindo aos cânones do que se considera "literatura" em meios acadêmicos, Quarto de Despejo é mais do que um simples depoimento; trata-se de uma obra em que, a despeito das condições materiais e culturais de sua autora, constrói-se uma forte e única representação da dinâmica social urbana, vista pelo ângulo dos que são lançados à margem. Carolina Maria de Jesus escreve para denunciar a favela e para sair dela; escreve também para, diferenciando-se dos outros moradores, lutar contra o rebaixamento a que estão sujeitos os miseráveis, num momento em que se anuncia novo salto modernizador de São Paulo e do Brasil.

"A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago."

- Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo", 1960.


Em Casa de Alvenaria, notam-se mais explicitamente as contradições da autora quanto ao que deseja para si mesma e para sua família. Também ficam patentes suas hesitações com relação aos anseios por reconhecimento público ou ao repúdio pelos mecanismos sociais que dificultam o trajeto profissional como escritora. Essa conjunção, por vezes discrepante, ajuda a entender as razões pelas quais essa obra é considerada pouco significativa e muito voltada para o trajeto instável de um indivíduo. Confinada à forma do diário, Carolina Maria de Jesus parece se sentir compelida a repetir uma fórmula, cujo efeito não tem a força de revelação de Quarto de Despejo. A figura da ex-favelada não desperta interesse, porque ela e sua obra são objeto de atenção apenas enquanto revelam a face negativa do desenvolvimentismo; já as oscilações ideológicas da mulher que, famosa, busca a atenção da imprensa e do público não
trazem à época elementos que se julguem significativos.

Diário de Bitita, publicado após a morte da autora, resgata a força literária da produção de Carolina Maria de Jesus. Trata-se de memórias da infância e da adolescência, em Sacramento e nas fazendas onde trabalha como colona, bem como de seus primeiros tempos em Franca. Nesta obra, os temas da injustiça social, da opressão, do preconceito contra os negros, dos abusos dos poderosos são apresentados a partir da perspectiva daquela que os viveu. Apesar de suas condições materiais, Carolina Maria de Jesus lutou para conquistar dignidade e para se constituir como alguém que resiste à exploração e à desumanização. A obra testemunha a história dessa luta e da opressão a que estão confinados os pobres no Brasil das primeiras cinco décadas do século XX.

Um afro abraço.

Fonte: Enciclopédia de Literatura

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